População da Coreia do Sul procura culpados pelo naufrágio do Sewol

  • Por Agencia EFE
  • 28/04/2014 14h17

Atahualpa Amerise

Seul, 28 abr (EFE).- O luto da Coreia do Sul pelos mais de 300 mortos no naufrágio da embarcação Sewol se desvanece à medida que a socidade procura culpados, com a presidente no ponto de mira, em um país que sente falhas apesar de seu forte desenvolvimento econômico.

A recente renúncia do primeiro-ministro entre fortes críticas ao Executivo por seu desastroso papel nesta tragédia causada por uma cadeia de despropósitos não parece suficiente para um país desolado e indignado, que passou a apontar diretamente para sua chefe de Estado, Park Geun-hye.

Park, que aceitou e encorajou a renúncia de seu primeiro ministro, é cada vez mais criticada por carregar a responsabilidade em outras pessoas desde dias posteriores ao fato, nos quais apontou diretamente o capitão como culpado comparando sua conduta com a de um “assassino”.

Ahn Cheol-soo, co-líder do principal partido opositor Nova Aliança Política e um dos políticos mais respeitados do país, afirmou hoje que a presidente é uma “covarde que mostra sua responsabilidade” ao entregar a cabeça do primeiro-ministro e nem sequer pede desculpas aos cidadãos.

Tanto os meios de comunicação como os familiares das vítimas acham que o governo reagiu tardiamento e com descoordenação ao acidente de quarta-feira, o que impediu o salvamento de mais vidas, e também acusam Seul de não ter feito os suficientes esforços nos trabalhos de resgate durante os primeiros dias.

Além disso, para grande parte da socidade sul-coreana, o naufrágio evidenciou o mal funcionamento do novos sistema de prevenção e resposta a desastres instaurado por Park após sua chegada ao poder há pouco mais de um ano em cumprimento de uma de suas promessas eleitorais.

Alguns meios de comunicação também lamentam que o surpreendente crescimento econômico que a Coreia do Sul alcançou nas últimas décadas não tenha sido acompanhado de padrões de segurança no nível dos da Europa ou EUA.

Por exemplo, a rede “Arirang” afirmou que a balsa tinha passado por inspeções correspondentes apesar de alguns dos coletes salva-vidas terem mais de 20 anos e estarem deteriorados e o desdobramento automático dos botes de emergência não ter funcionado adequadamente.

“É uma vergonha que ocorra algo assim em um país desenvolvido, isto é impensável em outros lugares”, opinou um cidadão indignado no site sul-coreana “Naver”, em um comentário que recebeu um grande apoio de outros internautas.

Por outro lado, também não faltaram os meios de comunicação estrangeiros que sugeriram a influência no fato da cultura confucionista coreana, na qual a obediência às autoridades é um dos princípios básicos que são colocados nas cabeças das crianças.

Assim, quando o barco afundava e a tripulação solicitou que todo o mundo permanecesse em seus assentos, poucos foram os que desobedeceram e salvaram suas vidas.

O naufrágio da embarcação Sewol também se compara cada vez mais com um ocorrido em 1993 com quase 300 mortos e que já suscitou uma tempestade política no país.

Um total de 476 pessoas viajavam na embarcação, a maioria estudantes de 16 e 17 anos. Desde a tragédia, mais de cem corpos ainda estão desaparecidos, o que eleva virtualmente o número de mortos a 302. EFE

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