Por falta de oferta, famílias enfrentam dilema para contratar planos de saúde na terceira idade
A chegada à terceira idade, aos 60 anos, se tornou transformou também em um impasse na vida do brasileiro médio. Se aposentar na maturidade entra na conta. É hora de decidir continuar arcando com o plano de saúde, que pode dobrar de preço, ou migrar de vez para o SUS.
O marido da aposentada Ana Aparecida Prado ouviu a sentença da operadora do plano: Luiz Carlos Ferreira foi mais vencido pelos números quando menos esperava. Tinha acabado de se aposentar e desde sempre usou a rede privada.Hoje temcom 70 anos. O impasse cresce a par e passo com o envelhecimento da população brasileira, que tambpem vive mais.
Em 15 anos, seremos o sexto país no mundo em número de idosos e a pirâmide etária será invertida. Pedro Ramos, presidente da Associação Brasileira dos Planos de Saúde, é categórico. Mas outros especialistas também apontam uma grande guinada para trás a partir de 2003, quando o Estatuto do Idoso proibiu as operadoras de reajustarem drasticamente a mensalidade dos mais velhos. Era para garantir proteção contra abusos, mas a lógica funcionou como um cobertor curto. As empresas brecaram a oferta de planos individuais e familiares, fiscalizados pela ANS, e apostaram nos coletivos, sem o mesmo controle de preço. A manobra abriu outra brecha: um “jeitinho” de entrar em categorias vendidas apenas para quem é vinculado a entidades de classe ou sindicatos.O que é ilegal, apesar de comum, ressalta o consultor jurídico da Associação Brasileira de Aposentados e Pensionistas, Renato Oliveira.
Além disso, agora, a última faixa etária à venda no mercado cobre pessoas com 59 anos ou mais. O que também significa a última oportunidade da operadora reajustar a mensalidade de alguém que, naturalmente, terá mais gastos com a saúde daqui pra frente.
Resultado: contratar um plano para idosos, além de tarefa cara e árdua, gera insatisfações de ambos os lados. Outra distorção, Como a lógica atual dos planos de saúde depende do mutualismo, as operadoras, com o tempo, reajustaram as mensalidades dos mais jovens para compensar os gastos adicionais dos idosos, que precisam de mais cuidado médico.
O presidente Abrange, Pedro Ramos, calcula que se a deturpação for corrigida, o valor médio do plano pode despencar: A Associação Nac ional das Administradoras de Benefícios compara o debate ao da Previdência Social. Segundo a presidente Luciana Silveira, há uma proposta de financiamento alternativo parada nas mãos do Governo desde 2013. O VGBL Saúde funcionaria como uma poupança onde, todo mês, você o jovem deposita uma quantia que garantirá o subsídio do plano quando idoso.
Outra proposta leva em conta a cultura de hábitos saudáveis de vida que concedam descontos progressivos. De acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a faixa etária que mais ganhou beneficiários nos últimos dois anos (de crise) foi justamente a de idosos: 6,7%. Especialistas justificam a guinada com a migração para planos nichos de mercado, exclusivos para os mais velhos, com cobertura restrita, rede própria e preços mais palatares.
A grande maioria voltou para o SUS, com o o Luiz Ferreira, aposentado que ouvimos no inicio da reportagem. Ana, a esposa, admite que ambos não dormem tranquilos desde que perdeu a cobertura do plano. Por isso, quando pode, procura médicos particulares. O Ministério da Saúde admite que o SUS está sobrecarregado. Desde o começo da crise, há dois anos, 2 milhões e meio de brasileiros perderam o plano de saúde e migraram para o sistema público.
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