Por onde anda o ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad?
Ana Cárdenes.
Teerã, 31 mai (EFE).- O ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad parece ter desaparecido: não faz discursos públicos, não aparece na mídia e, de um dia para outro, saiu da vida política. Ou não… Analistas dizem que o ex-líder está preparando um retorno para as eleições legislativas de 2016.
Os assessores negam, mas não de forma contundente, e o político permanece calado desde que deixou, há dez meses, a presidência da República Islâmica após oito anos de polêmicas tanto dentro como fora do Irã.
Desde junho de 2013, as vezes em que o líder é visto em público são raras. Não dá declarações, não participa de atos midiáticos e ouve sem contestar as críticas do governo de Hassan Rohani, que classificou seu mandato como “ruína” para o país.
Apesar disso, a recente criação de um grupo autodenominado HAMA (sigla em persa de “Seguidores de Mahmoud Ahmadinejad”) para coordenar atividades nos veículos que falarem positivamente sobre o controvertido ex-presidente, fez com que analistas e jornalistas acreditassem que, após quase um ano sem atividade, ele poderia começar a planejar seu retorno.
Segundo o jornal de linha reformista “Sharq”, o grupo é composto por mais de 150 blogueiros e jornalistas que trabalham de forma voluntária para promover Ahmadinejad nas redes sociais e nos veículos de imprensa digitais e impressos.
O surgimento do HAMA coincide com o lançamento de vários sites de apoio ao político, como “Dowlat-e Bahar”, “Ain News”, “Javan-e Enqelabi (Juventude Revolucionária)” e “Meydan-e 72”, nome da praça onde fica sua casa, em um bairro humilde do sul de Teerã.
Ali Akbar Javanfekr, assessor de Ahmadinejad há mais de dez anos e que ocupou postos-chave durante seu mandato, incluindo o de presidente da agência nacional “Irna”, assegura que ele não pretende voltar ao Executivo, mas deixa a porta aberta para algum tipo de retorno.
“Ele não tem intenção de voltar, mas não vai estar sempre à margem porque é um homem revolucionário e porque muitos pedem que volte”, disse em entrevista à Agência Efe.
“Ahmadinejad está estudando de que forma retornar e em que posição. Seu objetivo não é obter o poder político ou o parlamento, mas realizar o papel que o povo espera dele: perseguir a justiça e sua visão do Irã”, explicou Javenfekr.
Segundo ele, Ahmadinejad mantém relação com o líder supremo, o poderoso aiatolá Ali Khamenei, que o chama para reuniões.
Para o analista Mohamad Marandi, decano da Faculdade de Estudos do Mundo da Universidade de Teerã, a estratégia de Ahmadinejad é “inteligente” e seu silêncio “tem efeito positivo e o ajuda a projetar uma boa imagem”.
Marandi é um dos que acreditam que é provável que o ex-presidente esteja planejando concorrer às próximas legislativas, dentro de dois anos, já que é o que “corresponde ao seu espírito”.
O analista político conservador Amir Mohebian disse ao jornal “Sharg” que o ex-presidente “poderia considerar as próximas eleições como uma oportunidade para chegar à presidência do Parlamento e, de lá, criar obstáculos para o governo e finalmente voltar a ser presidente”.
No mesmo sentido fala o site conservador “Farda News”, que publicou recentemente que Ahmadinejad “está preparando listas para concorrer em Teerã – para o que já teria 150 candidatos – e em outras grandes cidades”.
Sejam quais forem seus planos, sua capacidade de movimento parece limitada.
O projeto carro-chefe que previu realizar, a Universidade Iraniana, ficou no limbo após receber vários golpes do novo Executivo, que caçou sua licença para funcionar e o prédio público que Ahmadinejad usou antes de deixar a presidência, e foi obrigado a devolver os mais de US$ 5 milhões destinados a sua criação.
A reconciliação com o movimento que o apoiou, mas do qual se distanciou durante seu segundo mandato, não parece por enquanto provável e vários de seus membros de maior destaque continuam se referindo a ele e seus seguidores como a “corrente desviada” e o acusam de dividir ao campo conservador e pavimentar assim o triunfo de Rohani nas últimas presidenciais.
Além disso, vários dos colaboradores mais próximos de Ahmadinejad tiveram nos últimos meses problemas com a Justiça.
Seus assessores, Bahman Sharifzadeh e Abdolreza Davari, foram sancionados recentemente – o primeiro, acusado de corrupção e, o segundo, de “divulgar falsidades” em um meio afim a Ahmadinejad.
Segundo diversos veículos de imprensa, Davari foi um dos principais envolvidos na criação do HAMA e na difusão de propaganda a seu favor e contra Rohani.
Mohamad Rujanian, ex-diretor do Comitê de Transportes, e Saiz Mortazavi, que dirigiu a Previdência Social, são outros de seus mais próximos colaboradores acusados nos últimos meses por crimes de corrupção.
O próprio Ahmadinejad foi chamado em novembro de 2013 e em janeiro deste ano a comparecer a um tribunal para responder por diversas acusações, mas preferiu ficar em casa. Em silêncio. EFE
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