Portugal, um ninho da espionagem durante a Segunda Guerra Mundial

  • Por Agencia EFE
  • 23/01/2014 10h48

Susana Irles.

Lisboa, 23 jan (EFE).- Portugal foi um enclave estratégico das redes de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial, que deixaram em sua passagem histórias de grandes agentes como Garbo e Popov, embora também de outros que abusavam de suas brincadeiras.

A neutralidade da ditadura de António Salazar e uso do país como ponto de partida para a América atraíram para Portugal os melhores espiões da época, que conviveram com outros que se passavam por agentes secretos ou vendiam informação falsas a qualquer lado.

O catalão Joan Pujol, “Garbo” para os britânicos e um dos grandes nomes da espionagem mundial, passou duas vezes por Portugal e se movimentava entre Lisboa e a costa de Estoril, um ninho de espiões, de grandes figuras políticas exiladas e de refugiados da Europa que fugiam do desastre bélico.

Durante sua estadia no hotel Suíça Atlântico no centro da capital, o agente criou parte de sua estratégia para enganar o lado alemão e atuar como duplo espião para os aliados.

“Os britânicos escutavam como (Pujol) enganava os alemães e pouco depois o recrutaram”, explicou à Agência Efe a historiadora Irene Pimentel, autora do livro “Espiões em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial”, no qual relata este episódio.

“Garbo” fingia estar em Londres, local onde nunca havia pisado e que descrevia com a ajuda de um guia de viagens comprado em Lisboa para falar das localizações e detalhes da cidade.

Com sua experiência e dedicação, ia enviando informações falsas à direção da espionagem dos alemães em Madri e sua audácia foi em breve detectada pelas escutas dos britânicos, a quem tinha oferecido seus serviços, mas que ainda não tinham confiado nele.

Pouco depois, passou a fazer parte do britânico Comitê da Dupla Cruz que funcionou como sistema de contraespionagem durante a disputa e no qual o espião espanhol foi fundamental ao convencer Adolf Hitler que o desembarque seria no Passo de Calais (França) e não na Normandia, como finalmente ocorreu.

Com um perfil muito diferente, o agente duplo dos aliados Dusko Popov também se movimentava pelas ruas de Lisboa. Os relatórios do FBI enviados aos serviços ingleses afirmavam que o iugoslavo andava com “um ar de playboy”, uma vida de luxo, carros caros, hotéis de primeira e amantes que sucumbiam a seu carisma.

“Popov foi como Garbo, o outro grande espião que afastou os alemães do desembarque na Normandia. Conseguiu manter a confiança dos alemães até o final da guerra”, explicou Irene Pimentel.

Outro espião famoso em Portugal foi Ian Fleming, funcionário da Inteligência Naval Britânica e diretor do escritório ibérico do serviço de espionagem inglês.

O escritor dos romances de James Bond se alojou no Hotel Palácio de Estoril e, como a maioria de espiões, controlava os movimentos marítimos dolbado alemão no Atlântico sul.

Compartilhava taças com agentes alemães nos bares da área, que costumavam se hospedar no vizinho Hotel Parque, no qual anos depois foram encontrados microfones ocultos sob o solo.

Os portugueses se aproximavam dos cafés e hotéis onde se hospedavam os espiões e diplomatas em busca de informações, e funcionários de alfândegas e policiais participavam daquele grande mercado de troca de segredos.

Até os alemães tiveram que desconfiar das prostitutas do bairro de Cais de Sodré, próximo ao porto, que ajudavam os aliados com as horas de saída e entrada dos embarcações germânicas graças a seus clientes.

Em geral, os portugueses trabalhavam como informantes de qualquer um dos lados em troca de dinheiro, alimentos ou roupa, outros se passavam por espiões e os que de verdade eram, também não tinham boa fama.

“Não eram bem-vistos. Segundo os ingleses, os portugueses rapidamente diziam que eram espiões e não guardavam bem os segredos. E os alemães diziam que inventavam informação quando não tinham”, contou Irene.

Outros exigiam pagamentos cada vez maiores dos quais os alemães se queixavam. Um funcionário que vigiou os duques de Windsor exigia sapatos para toda a família porque dizia que todos tinham ajudado no acompanhamento.

Embora uns melhores que outros, com espiões duplos e até alguns triplos, Portugal seguiu até o final da guerra como ponto de quebra para a espionagem que Salazar administrava “com pinças”, segundo Irene, e que só proibiu a partir de 1943. EFE

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