Praia turca é o ponto de partida de viagem de imigrantes rumo à Europa
Ilya U. Topper.
Istambul, 30 ago (EFE).- Uma praia turca do Mar Egeu, de onde é possível ver as ilhas gregas de Quíos, Kos e Lesbos, é o ponto de partida da longa e difícil viagem realizada por grande parte dos refugiados que não param de chegar à Europa Central através da região dos Bálcãs.
Apesar de a distância em linha reta para as três ilhas não ultrapassar os dez quilômetros, fazer a travessia a nado é a primeira prova de fogo para os imigrantes que se dirigem à Europa. E muitos morrem na tentativa.
“Éramos 50 pessoas em um bote inflável de sete metros de comprimentos. Ficamos mais de cinco horas dando voltas pelo mar, porque o condutor não sabia como lidar com ela”, lembrou em entrevista à Agência Efe um jovem sírio que aceitou fornecer apenas seu primeiro nome, Amro.
É comum que o barqueiro seja simplesmente um próprio refugiado, frequentemente sem experiência, que se oferece a conduzir as embarcações em troca de viajar de graça.
“No fim, ficamos à deriva e teríamos afogado não fosse pela patrulha grega, que nos descobriu e nos resgatou”, afirmou Amro.
Outro jovem que prefere se identificar com o pseudônimo Mohammed Ali chegou a Lesbos após a travessia, um dos destinos mais frequentes dos refugiados. Hoje, vive na Holanda e estuda Economia.
“Encontrar um traficante em Esmirna (a maior cidade turca no litoral do Mar Egeu) é fácil, há milhares. Mas é preciso tomar cuidado, porque todos são mentirosos, trapaceiros e não se preocupam se as pessoas morrem pelo caminho ou não”, revelou.
Os preços para embarcar em um bote inflável variam entre os 900 e 1.200 euros, mas a viagem reserva ainda outras surpresas.
“A viagem nunca é fácil, mas o maior perigo não são as ondas e sim as barcas gregas. A primeira vez que tentei, encontramos um navio grego tripulado por pessoas mascaradas que tinham armas. Eles retiraram o motor do nosso barco e nos disseram, em inglês, para voltarmos à Turquia”, revelou Mohammed.
“Se você os enfrenta, eles afundam seu barco. E se promete retornar à Turquia, eles vão embora, mas levam o motor, como no nosso caso. Ficamos à deriva por uma hora, até que uma patrulha litorânea turca chegou e nos levou para terra”, acrescentou.
De volta à Turquia, os resgatados foram confinados em um estádio de futebol. Mohammed escapou escalando os muros da edificação, enquanto seus amigos foram colocados em liberdade depois cinco dias de detenção. Mas nem mesmo os problemas tiraram a vontade do grupo de continuar tentando chegar à Europa.
“Também nesta vez nos encontramos com a barca grega e eles levaram nosso motor mais uma vez. Mas já estávamos tão perto do litoral que remamos rumo a ele com um pedaço de madeira. Nos seguiram, mas começamos a chamar a Cruz Vermelha e outras organizações de ajuda. Em todo caso, afundamos nosso bote para que eles não nos obrigassem a voltar”, completou.
“Uma vez na ilha, é preciso esperar quatro ou cinco dias, dormindo em parques ou hotéis, conforme o dinheiro que você possui. Só aí que você recebe um documento interino grego que permite sua movimentação”, afirmou Mohammed.
Nos últimos meses, o número de refugiados que chegam a Lesbos e às outras ilhas cresceu substancialmente. Em só cinco dias no último mês de julho, a Guarda Costeira da Turquia resgatou 568 imigrantes a caminho da Grécia, segundo dados do governo de Esmirna.
Entre janeiro e julho, as patrulhas turcas salvaram 20.165 refugiados imigrantes ilegais em 629 operações. Foram detidos no período 42 traficantes.
Os que conseguem chegar a uma ilha grega, como Mohammed e Amro, recebem seu documento interino e depois seguem para Atenas, onde devem decidir o próximo passo da viagem: ir de avião, com passaportes falsos, ou se arriscar na passagem pelos Bálcãs. EFE
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