Presidente da Colômbia abre governo para todos os partidos em busca da paz

  • Por Agencia EFE
  • 17/06/2014 03h50

Ana Gómez.

Bogotá, 16 jun (EFE).- O presidente reeleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, apresentou nesta segunda-feira as bases de seu segundo período de governo: uma plataforma aberta a todas as forças políticas para trabalhar “com mais intensidade” nos processos de paz com as guerrilhas.

Apesar da proposta não ser nova, já que o chefe de Estado havia anunciado essa disposição durante toda a campanha, ela ganha força porque, uma vez reeleito, deve começar a formar o novo governo e responder ao grande apoio eleitoral da esquerda, em um país polarizado com a oposição comandada pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).

Na primeira entrevista coletiva após seu triunfo eleitoral, Santos respeitou que os partidos de esquerda que o apoiaram com o pretexto de atingir a paz decidam ficar na oposição, mas afirmou que “se amanhã quiserem fazer parte do governo, estaremos com as portas abertas”.

Após a derrota no primeiro turno no dia 25 de maio contra o candidato do Centro Democrático (a plataforma política de Uribe), Óscar Iván Zuluaga, Santos colheu a adesão de forças políticas opostas a sua ideologia que o ajudaram a alcançar a vitória no segundo turno, no último domingo, com 50,95% dos votos, contra 45% de seu rival.

Santos estendeu seu convite para a paz a “todos os colombianos, não importa de que partido político sejam”, inclusive Zuluaga e seu grande opositor, o ex-presidente e senador eleito Álvaro Uribe, que acusou o governante reeleito de compra de votos.

Mas, após quatro anos de contínuos enfrentamentos verbais e uma das campanhas mais sujas da Colômbia, Santos evitou brigar com o ex-presidente e se limitou a dizer um breve: “certamente, Uribe, que se junte à paz”.

De fato, reforçou sua mensagem de reconciliação feita no discurso da vitória no domingo, quando disse não ter inimigos, nem guardar rancor, ao deixar claro que com o término das eleições, a Colômbia virou “a página do ódio”.

Por isso, o presidente interpretou o apoio de mais de 7 milhões de colombianos como um mandato que o obriga a “dar sua alma e vida” para o diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em Havana e as conversas com o Exército de Libertação Nacional (ELN).

O presidente também tinha antecipado em seu discurso da vitória que seu novo mandato será cheio de “profundas reformas” e, entre elas, mencionou hoje o fim da reeleição, da qual – paradoxalmente – acaba de se beneficiar nas urnas.

A ideia é eliminar essa possibilidade, que surgiu na política colombiana através de uma reforma constitucional para favorecer a reeleição de Uribe em 2006 e, em troca, ampliar o período presidencial de quatro para “cinco ou seis anos”, segundo o que for decidido no Congresso.

As eleições parlamentares de março desenharam um mapa no qual a coalizão do governo de Santos, a União Nacional, tem a maioria com 47 senadores e 91 representantes na Câmara, frente aos 20 senadores e 12 representantes do Centro Democrático, a principal força de oposição.

O presidente reeleito já tinha mencionado essa possibilidade durante seu primeiro governo, quando disse que preferiria governar por mais dois anos, ao invés de ser reeleito, mas, com a paz no meio do caminho, decidiu buscar um segundo mandato.

Santos chegou a dizer que a paz era sua “obsessão” e a chave para a justiça social e o desenvolvimento do país e que tem, além disso, implicações geopolíticas.

Os demais líderes latino-americanos, reconheceu, apoiam sua iniciativa e por isso pretende manter relações mais próximas com seus vizinhos e também com os Estados Unidos, cujas relações estratégicas podem sofrer mudanças a partir de uma eventual paz negociada.

“Se conseguirmos concretizar esse processo de paz, estaremos fechando um ciclo com o fortalecimento da democracia. Seria a chave de ouro” do Plano Colômbia, disse sobre o programa de cooperação com os EUA, implementado em 2002 para acabar com o narcotráfico e as guerrilhas pela via militar.

Encerrar a perseguição dos grupos armados ilegais abriria uma porta para o financiamento do pós-conflito, como já começou a acontecer, conforme disse o presidente reeleito, que receberá a partir de amanhã em Bogotá o vice-presidente americano, Joseph Biden, para revisar, entre outros assuntos, os alcances do programa. EFE

agp-erm/rpr

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.