Presidente do Cazaquistão deve se reeleger e busca abrir porta para reformas
Astana, 22 abr (EFE).- A eleição presidencial no Cazaquistão acontece no próximo domingo, dia 26, em o atual líder, Nursultan Nazarbayev, busca uma nova reeleição que, deixou entrever, poderia ser o prelúdio de sua retirada após um quarto de século no poder.
“Meu único objetivo será lidar com os novos desafios”, disse Nazarbayev no início de março, quando oficializou sua candidatura pelo partido, Nur Otan.
Em princípio previstas para 2016, as eleições foram antecipadas levando em conta a atual conjuntura, “pelo agravamento da crise econômica mundial” e para dar um novo mandato ao presidente nesta difícil etapa, como propôs a Assembleia do Povo do Cazaquistão, um órgão consultivo do país.
Essa decisão foi diretamente influenciada pela alta dependência que o país tem da exportação de petróleo e de matérias-primas, que sofreu com a drástica queda de preços nos mercados mundiais, ao que se uniu o impacto na economia cazaque das sanções ocidentais impostas à Rússia.
Nazarbayev, de 74 anos, que já governou esta extensa república da Ásia Central em tempos soviéticos como chefe do Partido Comunista local, preside o Cazaquistão desde sua independência em 1991, surpreendeu em seu discurso de aceitação da candidatura, feito durante a convenção de seu partido.
“Uma vez que se alcancem as reformas institucionais e a diversificação econômica, o país deveria realizar uma reforma constitucional que preveja a transferência de poder desde o presidente ao parlamento e ao governo, de acordo com nossas tradições”.
“Nazarbayev entende que o sistema que construiu cairá se não fizer reformas políticas”, opinou o analista cazaque Dosyn Satpayev, diretor do Grupo de Avaliação de Riscos do Cazaquistão, para explicar essa declaração sem precedentes.
O próprio ministro das Relações Exteriores do Cazaquistão, Erlan Idrissov, reconheceu recentemente que o país, territorialmente imenso, mas com apenas 17 milhões de habitantes, encravado entre os gigantes Rússia e China, está sofrendo as consequências das tensões entre a Rússia e o Ocidente por causa da crise da Ucrânia.
“Temos efeitos colaterais da política dos países ocidentais para com a Rússia, que afetaram também o comércio, e isso é uma carga para nossa sociedade”, assinalou o ministro durante um conselho de cooperação entre a UE e o Cazaquistão em Bruxelas.
Por isso, as autoridades de Astana estão tentando ajudar a mediar entre Rússia, Ucrânia e UE para alcançar a estabilidade na Ucrânia.
O Cazaquistão considera que a política de sanções contra Moscou é contraproducente, não faz sentido, e espera que os envolvidos possam superar suas diferenças.
O país centro-asiático, que abriga, por exemplo, a base de Baikonur, de onde partem as naves espaciais russas, tem 20% de população russófona, o que o faz sentir de muito de perto o conflito ucraniano pela sublevação das regiões pró-russas do leste da Ucrânia.
Nesse sentido, os observadores não têm dúvidas de que Nazarbayev se manterá na presidência, apesar de outros dois candidatos concorrerem: Turgun Syzdykov, de 66 anos e chefe do Partido Comunista, e Abelgazy Kussainov, de 63 anos, presidente da Federação de Sindicatos do Cazaquistão.
“Muitos cazaques creem que hoje não há alternativa melhor. Consideram o presidente um fiador da estabilidade econômica e política, e muitas minorias étnicas do Cazaquistão apoiam o chefe de Estado como avalista da estabilidade interétnica”, afirmou Satpayev.
Uma pesquisa da Ipsos MORI divulgada no último dia 21 revelou que 91% dos entrevistados está “muito satisfeito” ou “algo satisfeito” com a gestão do atual presidente, candidato favorito, segundo a pesquisa, para a eleição do próximo domingo.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, a antecipação das eleições responde ainda, a 2016 ser um ano crucial com grandes eventos no Cazaquistão, como a Exposição Universal 2017 em Astana e a aspiração de ocupar um assento não permanente no Conselho de Segurança da ONU em 2017-2018. EFE
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