Presos no Malawi: a odisseia de centenas de etíopes rumo à África do Sul

  • Por Agencia EFE
  • 14/09/2015 10h20
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Xavi Fernández de Castro.

Nairóbi, 14 set (EFE).- Enquanto a chegada de refugiados à Europa monopoliza toda a atenção midiática, centenas de etíopes vivem há meses uma odisseia nas prisões do Malawi.

Em sua viagem desesperada rumo à África do Sul, fugindo de um regime semi-ditatorial e de uma pobreza arrasadora, são presos e esquecidos à própria sorte.

“Nos últimos meses, entre 400 e 500 imigrantes etíopes imigrantes ilegais foram presos nas prisões de Maula e Chichiri e alguns estão presos desde dezembro de 2014”, declarou à Agência Efe a subdiretora dos Médicos sem Fronteiras (MSF) em Malawi, Nicolette Jackson.

As condições de vida nas prisões do Malawi são deploráveis, com uma população reclusa que quadruplica a capacidade dos centros. Em Maula, a maior prisão do país, há uma média de 147 detentos por cela – o triplo do estipulado -, uma torneira para cada 900 pessoas e uma latrina para cada 120.

Os detentos comem uma vez ao dia, normalmente um prato de nsima (farinha de milho), que às vezes é acompanhado favas ou verduras, o que provocou vários casos de desnutrição entre os etíopes, que estão acostumados a uma dieta mais rica em proteínas.

A superpopulação das celas também cria um problema sanitário de difícil solução. Em celas onde os detentos quase não podem movimentar-se e dormem sentados apoiados na parede ou no chão, o controle de infecções é uma utopia e já foram registrados os primeiros casos de tuberculose, assegurou a MSF.

Não cometeram nenhum crime, já que foram detidos quando tentavam atravessar o país de maneira irregular e isso é considerado uma falta administrativa que, em teoria, implica em repatriação nos três meses seguintes à detenção, mas acabam encarcerados pela falta de recursos do governo malauiano.

O Departamento de Imigração espera que sejam “os próprios imigrantes os que custeiem sua repatriação, algo impossível porque não têm dinheiro, e o governo malauiano também não dispõe de fundos”, advertiu Jackson, razão pela qual ficam em um limbo legal pelo qual ninguém se responsabiliza.

Segundo a MSF, as autoridades penitenciárias reconhecem que a situação dos imigrantes ilegais não é correta e esperam que os governos de Malawi e Etiópia encontrem uma solução o mais rápido possível, pois a crescente chegada de imigrantes ilegais ameaça colapsar as prisões.

Nem a Direção do Serviço Penitenciário de Malawi nem o responsável pelas prisões da região central, do qual depende o centro de Maula, responderam às perguntas da Efe sobre esta questão.

Por sua parte, o governo etíope já mostrou sua predisposição a viajar para o Malawi para identificar os imigrantes ilegais e proporcionar documentação provisória para que possam viajar outra vez à Etiópia, mas será um processo longo porque também não dispõem dos fundos necessários para financiar a repatriação.

A única possibilidade é que a Organização Internacional para os Migrantes (OIM), que tem um programa de ajudas para que os imigrantes possam voltar a seus países de origem, proporcione assistência financeira aos afetados, mas o fato de que estejam na prisão complica o processo.

Enquanto os governos discutem os pormenores do plano de atuação, os imigrantes definham nas prisões e o desespero se apoderou de seu estado de ânimo até tal ponto que, durante suas entrevistas com a MSF, 45% dos internos menciona que já pensou em suicidar-se.

Atualmente a única esperança que lhes resta é a boa vontade de outros etíopes que estão em Malawi de forma legal e que, ao saber do caso pela imprensa local, tentam ajudar-lhes levando um pouco de comida à prisão, mas, principalmente, recolhendo mensagens que depois enviam a seus parentes na Etiópia.

Muitos fugiram de suas casas na busca de um futuro melhor, mas ao se verem presos no Malawi, não só viram seu sonho destruído, como também perderam o contato com suas famílias, que agora pelo menos podem saber que, apesar de tudo, seus entes queridos continuam vivos. EFE

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