Privatização da fronteira: a ideia para frear a crise econômica em Gaza

  • Por Agencia EFE
  • 28/02/2014 06h24

Saud Abu Ramadan.

Gaza, 28 fev (EFE).- O movimento islamita Hamas, que governa em Gaza, pretende privatizar a gestão de postos de fronteira entre Israel e Egito para enfrentar a deterioração econômica imposta pela Faixa, controlada pelo exército israelense desde 2007.

Empresários acreditam ser uma ideia acertada, mas pensam ser quase impossível cumprir enquanto não se materialize a reconciliação das facções palestinas, estagnada desde 2012. Além disso, nos últimos meses tanto o Hamas quanto a Autoridade Nacional Palestina (ANP) tentam progredir novamente, embora sem sucesso.

Em entrevista à imprensa, Alla al-Deen al-Rafati, ministro da Economia do governo do Hamas, explicou que o objetivo é entregar a manutenção e a administração dos postos a um empresário de Gaza. Caberá ao governo legislar e vigiar o funcionamento do processo.

“Tramitar os postos será missão das empresas privadas, e a única coisa que o governo fará será legislar, fazer as políticas e criar a atmosfera necessária para uma gestão apropriada”, afirmou Rafati.

Neste sentido, ele revelou que os planos já estão muito avançados, e que seu ministério já tratou do assunto com diferentes membros do setor privado para estudar e concretizar um mecanismo de trabalho.

“O objetivo final é evitar que a política interfira nos postos de fronteira e impeça que continuem sendo utilizados como desculpa para endurecer ainda mais as já duras condições de vida” das quase duas milhões de pessoas que moram na Faixa de Gaza, acrescentou Rafati.

Gaza está submetida a um estreito cerco militar israelense desde que em 2007 foi feito o controle da região após uma sangrenta batalha com as milícias da ANP, cuja autoridade ficou relegada à Cisjordânia.

Embora desde 2010 esse assédio tenha reduzido gradativamente, o Hamas se queixa de que Israel só permite a entrada de 40% dos produtos básicos de que a população precisa, e mantém restrita a entrada de materiais de construção e de matérias-primas para a indústria.

Por conta da imposição do bloqueio, moradores de Gaza decidiram combatê-lo fazendo dezenas de túneis, principalmente na fronteira com o Egito, que durante anos foram utilizados para o transporte pessoas e produtos básicos, mas também servia para o contrabando de armas.

No entanto, a decisão adotada no ano passado pelo regime militar do Egito de destruir mais de 90% desses túneis causou um severo prejuízo econômico à Faixa e prejudicou ainda mais sua situação humanitária.

“A privatização dos postos de fronteira de Gaza é uma das melhores formas que o governo tem para fazer frente à contínua deterioração da economia” insistiu Rafati, que assegurou que essa questão também é negociada e coordenada com a ANP.

“A Autoridade Palestina não se opõe a este plano, que poderá ser colocado em andamento uma vez que conte com a aprovação de Israel e Egito”, acrescentou.

Consultado em Ramala, o ministro da Economia da ANP, Jawad Naji, negou que o gabinete tenha recebido proposta sobre o assunto das autoridades de Gaza.

Najji evitou, além disso, confirmar que a ANP aceite este plano, e se limitou a ressaltar que “os principais postos de fronteira são soberanos e sua gestão só cabe à Autoridade Nacional Palestina”, como governo reconhecido.

A situação é complexa, já que a ANP é a única que tem capacidade para coordenar com as autoridades israelenses a entrada e saída de produtos básicos, como o combustível e a comida, através dos postos de Kerem Shalom, que o exército israelense controla no sul de Gaza. O Hamas, por sua vez, controla os postos em Gaza, mas não tem relação direta com Israel, Estado que não reconhece e que considera seu inimigo.

Nesta situação, os responsáveis do setor privado em Gaza duvidam que o plano exposto pelo movimento islamita possa chegar a um bom termo enquanto não se consiga antes a reconciliação das facções palestinas.

“A privatização colocada pelo Hamas não é simples, já que, em primeiro lugar, necessita das permissões de Israel, do Egito e do presidente (da ANP, Mahmoud) Abbas”, disse à imprensa Maher Tabaa, membro destacado da Câmara de Comércio de Gaza.

Na mesma linha se posicionou Ali al Hayek, presidente da Associação de Empresários de Gaza, para quem “a ideia é boa, mas o momento de colocá-la em prática é incorreto.

“Enquanto a divisão persistir e não tiver reconciliação, não poderá ter sucesso”, concluiu. EFE

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