Processo de paz com Farc domina campanha presidencial colombiana

  • Por Agencia EFE
  • 23/05/2014 19h34

Ovidio Castro Medina.

Bogotá, 23 mai (EFE).- O processo de paz do governo colombiano com a guerrilha das Farc monopolizou a campanha para as eleições presidenciais de 25 de maio em um país dividido entre defensores e inimigos do diálogo que visa pôr fim a meio século de conflito armado.

Se o processo é bem ou mal conduzido, se haverá acordos ou não, se é irreversível, se haverá verdade, reparação e justiça ou se será um ano de impunidade são temas que estão no discurso dos cinco candidatos, mas principalmente do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que faz da paz um propósito nacional e a bandeira de sua campanha.

O conflito domina a vida dos colombianos há 50 anos, período no qual o Centro de Memória Histórica documentou 220 mil assassinatos, segundo o relatório “¡Basta ya!” (Basta já!), publicado há um ano e que permitiu conhecer pela primeira vez números concretos. A esse apavorante dado se somam 5.712.506 vítimas de deslocamento forçado, 25.007 desaparecidos, 1.982 massacres, 27.023 sequestrados, 1.754 vítimas de violência sexual e 6.421 casos de recrutamento forçado.

As negociações de Havana começaram em novembro de 2012 e, desde então, o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram a acordos em três pontos da agenda: terras e desenvolvimento rural, participação política dos guerrilheiros desmobilizados e drogas ilícitas.

Ficam pendentes os relativos às vítimas e fim do conflito, que inclui desmobilização e abandono das armas, para, por último, chegar à confirmação e implantação do acordo final.

Esses avanços são a carta de Santos. “Esta paz não é de Juan Manuel Santos nem de meu governo, é de todos os colombianos”, repete como um mantra o presidente para transmitir ao eleitorado sua convicção de que o país está “diante de uma oportunidade real” de terminar o conflito e seguro que nunca antes havia estado tão perto de um acordo com as Farc.

Em setembro de 2012, dias após confirmar as conversas exploratórias para o diálogo, Santos anunciou que as negociações seriam “de meses, não de anos”, com o objetivo de evitar que o processo de paz cruzasse com as eleições e terminasse se transformado em um tema de campanha.

Ele buscou assim gerar confiança em uma população cética pelas tentativas anteriores de paz. O mais lembrado foi o que transcorreu durante o governo de Andrés Pastrana (1998 e 2002) e que, após quatro anos de negociações, tudo não passou de um enorme fracasso.

No calor da campanha, o processo foi questionado e até sofreu tentativas de ataque a partir de membros do movimento uribista Centro Democrático, cujo candidato, Óscar Iván Zuluaga, foi relacionado com uma operação de espionagem ilegal contra os negociadores de Cuba.

Zuluaga, que aparece em um vídeo discutindo com um hacker sobre como sabotar a campanha de Santos a partir de informação espionadas em Cuba, disse publicamente que as Farc não têm qualquer vontade de paz, e considera que os acordos não podem ser construídos sobre a impunidade.

Na sexta-feira passada, quando as Farc e o Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN) anunciaram em Havana um cessar-fogo unilateral de 20 a 28 de maio para que os colombianos pudessem votar tranquilos pela primeira vez em décadas, Zuluaga foi um dos mais críticos.

Sua linha ideológica é compartilhada pela candidata do Partido Conservador, Marta Lucía Ramírez; enquanto a aspirante à presidência pela coalizão de esquerda, Clara López, reivindica que após mais de meio século de guerra a solução negociada é um imperativo ético, político e social.

Contrária à decisão de Santos de negociar no meio da guerra, López acredita que para blindar o processo é preciso um cessar-fogo bilateral.

Entre uns e outros navega o ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa, da Aliança Verde, que desde sua concepção de que a classe média “está relativamente abandonada” e a Colômbia “é um país urbano e o problema das guerrilhas é muito rural”, respalda o processo de paz, mas sem que o Estado renuncie à ação militar.

Sob esta conjuntura, a paz na Colômbia está nas mãos do resultado que sairá das urnas no próximo domingo ou em 15 de junho, caso nenhum candidato, como contemplam as enquetes, alcance a maioria absoluta e o pleito vá para o segundo turno. EFE

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