Programa nuclear do Irã expõe diferenças entre Israel e Alemanha

  • Por Agencia EFE
  • 25/02/2014 16h23

Daniela Brik.

Jerusalém, 25 fev (EFE).- Importantes aliados e parceiros comerciais, Israel e Alemanha protagonizam nos últimos anos uma saga de encontros e desencontros que ficaram patentes nesta terça-feira pelas diferenças sobre como encarar o programa nuclear do Irã.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sustenta que a melhor maneira de impedir que o regime iraniano obtenha a capacidade armamentista atômica é desmantelando suas instalações de enriquecimento de elementos físseis.

Em entrevista coletiva ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, Netanyahu repetiu hoje que Teerã “continua sua implacável busca por armas nucleares” e que sua capacidade é “equivalente a 50 Coreias do Norte”.

Defendeu que se o Irã persegue fins pacíficos não precisa de centrífugas, e que, pelo contrário, “se mantém essa capacidade, então não há dúvida que empregará essas armas”.

Em seu segundo dia de visita oficial a Israel, Merkel não duvidou em expressar sua opinião sobre essa e outras questões nas quais os dirigentes não concordam.

A Alemanha, que integra o grupo de seis potências internacionais que negocia com o Irã a redução de seu programa atômico, defende o diálogo diplomático para reduzir ao mínimo o enriquecimento de urânio, fundamental para conseguir a bomba nuclear.

“Está claro que há uma diferença de opinião em relação a estas negociações e até mesmo em se deveriam acontecer. Fixamos o caminho do baixo enriquecimento, mas o enriquecimento tem lugar, e acho que podemos ter êxito”, opinou a chanceler.

Acompanhada por quase todo seu gabinete, Merkel liderou uma cúpula bilateral com seus colegas em Israel, país com o qual no próximo ano a Alemanha celebra o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas.

Apesar de ambos Estados se esforçarem para manter bons laços de amizade e aliança, analistas locais não escondem que a química entre ambos dirigentes é pouca, a desconfiança cresce e as diferenças de opinião são cada vez mais evidentes.

A chanceler alemã reiterou hoje sua posição contra a expansão colonial israelense por considerar “a questão dos assentamentos” crítica para a viabilidade de um futuro Estado palestino.

Apesar de defender a negociação entre israelenses e palestinos promovida pelo secretário de Estado americano, John Kerry, Merkel expôs sem papas na língua que, para que a solução de dois Estados possa se tornar realidade, “precisamos de integridade territorial”.

A líder alemã se referia ao fato de a proliferação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia tornar cada vez mais difícil a integridade do futuro Estado palestino.

Apesar de suas críticas, Merkel transmitiu seu apoio aos requerimentos em matéria de segurança de Israel assim como à exigência que os palestinos reconheçam este Estado como judeu nas atuais negociações de paz.

Após o discurso, que rememorou o realizado em Berlim em dezembro de 2012 – quando Merkel disse ao lado de Netanyahu: “Estamos de acordo que não estamos de acordo” -, a líder alemã recebeu a Medalha Presidencial das mãos do chefe de Estado israelense, Shimon Peres.

“Estamos aqui hoje para expressar a profunda valorização de meu povo e minha nação a você e a seu país e por sua valente posição ao lado de Israel”, disse Peres ao distingui-la com a condecoração.

Além disso, o Ministério das Relações Exteriores israelense apresentou o logotipo do jubileu das relações diplomáticas entre os dois países que se iniciaram em 1965, marcadas por um trágico passado comum, o Holocausto.

A Alemanha é o aliado mais importante e principal parceiro comercial de Israel na Europa e tenta ressaltar com estas cúpulas o forte laço que lhe une com o Estado judeu.

Durante a visita foram assinados seis acordos de cooperação bilateral, entre eles um que permitirá que as representações diplomáticas da Alemanha deem assistência consular a israelenses naqueles países onde não conte com embaixada.

Apesar das diferenças, os líderes de ambos países continuam dançando uma valsa na qual um necessita do outro, seja por uma pesada dívida histórica, seja pela necessidade de aliados no mundo. EFE

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