Proibição de foie gras em SP aguarda decisão de Haddad; chefs criticam incoerência de projeto

  • Por Jovem Pan
  • 16/05/2015 10h30
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 31-01-2013, 16h00: Tartine de atum com foie gras do Restaurante Tartar & Co., em Pinheiros, São Paulo (SP). (Foto: Leticia Moreira/ Folhapress, COMIDA) Letícia Moreira/Folhapress Tartine de atum com foie gras do Restaurante Tartar & Co.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad ainda não definiu se vai sancionar ou vetar o projeto de lei que está sobre sua mesa e que prevê a proibição do foie gras na capital paulista. De autoria do vereador Lercio Benko, o projeto defende que a iguaria seja proibida porque a produção do prato envolve maus tratos com animais.

O foie gras é um artigo de luxo, produzido a partir do fígado gordo de pato ou de ganso. Para que seja obtido é necessário que o animal seja submetido a um processo de engorda, com alimentação forçada, através do método gavagem.

Na avaliação de vários chefs paulistanos, não há motivos para a proibição. Eles entendem que proibir o foie gras por causa do processo de abate do animal e ignorar os outros animais que também são abatidos é incoerente.

O restaurateur Charlô Whately, do Buffet Charlô, argumentou que ainda estamos longe de uma realidade na qual os animais não serão mais abatidos para alimentação de humanos.

“Os frangos que a gente come também sofrem, vivem dois meses sem dormir com a luz acessa. A vitela também sofre. Então acho um pouco drástico. Acho que a tendência do mundo é não comer carne, mas vai demorar ainda”, disse.

Charlô Whately explicou que, no seu caso, o impacto da proibição não seria negativo, uma vez que a procura pelo foie gras se restringe a um grupo seleto.

O chef Max Abdo, do Max Bistrô, diz que lutar para que a iguaria continue nos cardápios é uma questão de liberdade. “É um desserviço que to prestnado. A pessoa vai pro mundo inteiro e come, aí chega aqui e por causa de uma lei não come, por causa de uma lei que, pra mim, não tem cabimento. Eu não tenho no meu cardápio o foie gras, mas eu tenho quando faço degustação. Nem sempre eu uso, mas é uma questão de liberdade. Existem preocupações muito maiores do que ficar lidando com foie gras”, explicou.

Renato Carionte, chef do restaurante Così, em São Paulo, disse que não concorda com o projeto de lei e ressaltou a incoerência que vê na ideia.

“Se formos dizer que quem é mais evoluído ou menos evoluído a pessoa que faz uma super alimentação num animal para ser consumido como forma de prazer ou a pessoa que sacrifica um animal adorando um deus. A lei permite que as pessoas façam sacrifício de animais hoje. Aí há uma controvérsia. Se pode fazer isso, pode fazer foie gras”, justificou.

Em defesa do projeto, o vereador falou em evolução e disse que as comparações com o abate de animais como frango e boi não têm coerência. Laércio Benko afirmou que não dá para pensar em alimentar a população sem que os métodos atuais sejam utilizados, mas dá para evitar o sofrimento dos patos e gansos utilizados para produzir o foie gras.

O vereador defendeu ainda o sacrifício de animais para rituais de algumas religiões e diz que ambos os casos são respaudados por lei. “O fígado do ganso, além de ser consumido por uma parte ínfima da população, a forma com que o pato e ganso são tratados é muito mais cruel. É uma coisa absolutamente desnecessária para a totalidade da população”, disse.

Laércio Benko afirmou que não conversou com o prefeito Fernando Haddad para saber se ele irá sancionar ou vetar o projeto de lei. No entanto, é categórico ao dizer que não há motivos técnicos para que esse projeto seja vetado.

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