Proprietários rurais preservam menos do que declaram

  • Por Estadão Conteúdo
  • 23/05/2016 09h26
Colniza é um retrato do desmatamento em Mato Grosso Marcelo Camargo/Agência Brasil Árvore em meio à plantação de soja - desmatamento

Uma análise preliminar feita sobre uma amostra de 62% da área dos imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) aponta que, pelo menos, 30% deles apresentam déficit de Reserva Legal, porção das propriedades particulares que, por lei, deveriam ser preservadas com vegetação nativa.

O número foi obtido pelo Serviço Florestal Brasil, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, com base no cruzamento de imagens de satélite com as informações declaradas pelos proprietários de terra ao fazer o CAR.

Na amostra de 219,5 milhões de hectares (dos pouco mais de 350 milhões de hectares cadastrados até 5 de maio), os proprietários declararam ter 88,8 milhões de hectares (Mha) como remanescentes de vegetação nativa (40%), sendo 57,5 Mha de Reserva Legal e 12,2 Mha de áreas de preservação permanente (APP), como as margens de rios e de nascentes.

Imagens de satélite mostraram, porém, que a realidade é menos verde. Da Reserva Legal declarada pelos donos, foram analisados 55,7 Mha (excluindo Pará e Bahia, dos quais as imagens não estavam disponíveis) e observou-se que 70% (38,9 Mha) de fato têm vegetação nativa. Já de APP descobriu-se que somente 55% estão cobertos com remanescentes (6,8 Mha). Somando os dois déficits, 16,8 Mha e 5,4 Mha, respectivamente, são 22,2 Mha de áreas desmatadas que deveriam estar protegidas.

Os dados foram apresentados por Raimundo Deusdará, diretor-geral do Serviço Florestal, em evento do Observatório do Código Florestal, na última sexta-feira (20), no Rio de Janeiro. Apesar de ainda serem preliminares, uma vez que é preciso verificar se algo desse desmatamento foi autorizado, e de serem fundamentados apenas em amostra, os números já dão um indicativo do tamanho do passivo ambiental brasileiro. 

Antes da realização do CAR, haviam estimativas de que o tamanho do prejuízo podia girar em torno de 20 Mha e 85 Mha. O governo, de acordo com Deusdará, acreditava que seria algo perto de 21 Mha. Como ainda falta avaliar mais de 130 milhões de hectares, o quadro pode ser diferente. Ele acredita que, em um mês, terá números finais. 

Recuperação

O diretor do Serviço Florestal afirmou, contudo, que esses números não significam muito e que tudo terá de ser recuperado. “Ter cerca de 17 milhões de passivo de Reserva Legal bate um pouco com a expectativa da meta do Brasil ao Acordo de Paris, que comprometeu o País a restaurar 12 milhões de hectares, porque o resto pode ser compensado em terras que tiverem excedente de vegetação preservada”, diz.

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