Protestos no Paquistão contra publicação de charges de Maomé deixam 3 feridos

  • Por Agencia EFE
  • 16/01/2015 15h27

Aashan Latif.

Islamabad, 16 jan (EFE).- O mal-estar gerado no mundo islâmico por causa da publicação de charges de Maomé na imprensa ocidental acabou se transformando em uma série de protestos violentos nesta sexta-feira no Paquistão, onde pelo menos três pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia e o Exército.

“Eu sou Maomé”, mostravam cartazes dos manifestantes na cidade de Karachi, no sul do país, em resposta ao lema “Eu Sou Charlie”, de apoio ao semanário francês “Charlie Hebdo”, que publicou as caricaturas consideradas como ofensivas pelos islamitas e que serviram de motivação para o atentado do último dia 7, no qual morreram 12 pessoas.

Após os ataques, o “Charlie Hebdo” publicou na última quarta-feira uma edição especial com uma capa que mostra a figura de Maomé chorando, segurando um cartaz com a frase “Eu sou Charlie”, sob o título “Está tudo perdoado”.

A nova publicação voltou a enfurecer amplos setores muçulmanos, pois consideram que se trata de uma ofensa ao profeta. Segundo as leis islâmicas, Maomé não pode ser representado graficamente.

Mais de 20 organizações islâmicas reunidas sob a denominação comum de Tehreek Hurmat-e-Rasool convocaram os protestos contra a divulgação da imagem do profeta em todo Paquistão, o segundo país do mundo com maior população muçulmana após a Indonésia.

As manifestações começaram às 13h locais, após a oração muçulmanas das sextas-feiras.

A marcha em Karachi, cidade mais populosa do Paquistão e capital financeira do país, acabou em vários confrontos com a polícia, que teve que pedir apoio ao Exército quando cerca de 350 manifestantes tentaram se aproximar do consulado da França.

Um porta-voz da polícia, Ikram Hussain, disse à Agência Efe que foram simpatizantes da organização Islami Jamiat-e-Tabala que começaram a atirar contra as forças de segurança, que responderam com tiros para o alto.

Pelo menos três pessoas foram atingidas pelos disparos, entre elas um fotógrafo paquistanês da agência “AFP”, Asif Hasan, que está internado em estado grave, declarou à Efe o porta-voz do hospital Jinnah de Karachi, Seemi Khamali.

Os outros dois são um câmera da emissora local “Capital TV” e um professor ligado ao Islami Jamiat-e-Tabala, acrescentou Khamali.

Outros veículos da imprensa local, como o canal “Geo”, informaram que a origem dos disparos não está clara. Alguns dos feridos, inclusive, podem ter sido atingido por balas de borracha.

As forças de segurança conseguiram dispersar os manifestantes após usar gás lacrimogêneo e jatos de água. No entanto, as organizações que convocaram os protestos anunciaram que estudarão novas mobilizações nas próximas horas.

Um dos líderes do Islami Jamiat-e-Tabala, Sirajul Haq, afirmou que a liberdade de expressão tem limites, e que os países ocidentais não deveriam provocar os países muçulmanos.

Amir Hamza, um dos responsáveis do Tehreek Hurmat-e-Rasool, fez uma convocação para que “os 57 países muçulmanos se unam para proteger a santidade do profeta”.

Outro representante, Akram Khan Durrani, afirmou que os líderes de nações islâmicas deveriam “exigir uma lei internacional contra a blasfêmia”.

“Nós não ofendemos outras religiões. Por que os seguidores delas ofendem a nossa?”, questionou.

As manifestações se estenderam por grande parte do Paquistão, incluindo a capital Islamabad. Bandeiras francesas foram queimadas e a comunidade islâmica convocada para reagir frente ao que é considerado como uma agressão aos muçulmanos.

O parlamento do Paquistão afirmou ontem que as charges “são tentativas deliberadas de incitar a violência”. Já o primeiro-ministro do país, Nawaz Sharif, pediu a comunidade internacional para evitar “a publicação de material provocativo”.

O Paquistão é uma república islâmica. Cerca de 97% dos seus 180 milhões de habitantes são muçulmanos.

O parlamento do vizinho Afeganistão também condenou a nova edição do “Charlie Hebdo” e a representação da imagem de Maomé na capa.

A publicação em 2005 de charges do fundador do Islã no jornal dinamarquês “Jyllands-Posten” gerou uma onda de protestos no mundo muçulmanos. Vários deles foram violentos, como o que acabou com o incêndio da embaixada dinamarquesa na Síria. EFE

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