Protestos opositores testam democracia paquistanesa

  • Por Agencia EFE
  • 12/12/2014 20h49
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Shoaib Saleem.

Islamabad, 12 dez (EFE).- O governo de Nawaz Sharif enfrentou um ano turbulento com protestos opositores tolerados pelo exército, que puseram a toda prova a consolidação da democracia paquistanesa, após o distanciamento do Executivo em relação às Forças Armadas com o julgamento do ex-ditador militar Pervez Musharraf.

Quatorze meses depois das eleições que levaram Sharif ao poder, as primeiras depois que um Executivo completou os cinco anos de mandato estipulados por lei, os protestos começaram a proliferar exigindo a renúncia do governante por suposta fraude eleitoral.

Os manifestantes entraram na chamada “zona vermelha” de Islamabad, uma área de alta segurança que abriga o Parlamento e outras instituições públicas, e tomaram momentaneamente as sedes sociais do canal público “Paquistão Televisão” (“PTV”).

Os militares, que governaram o país em metade de sua história, ficaram na posição de espectadores e o chefe do Exército paquistanês, general Rahil Sharif, se limitou a pedir a ambas as partes que dialogassem.

Os seguidores de Imran Khan do partido do Paquistão Tehreek-e-Insaf (PTI), e de Qadri, à frente do Paquistão Awami Tehreek (PAT), paralisaram a capital durante um mês e provocaram o cancelamento de visitas de líderes estrangeiros, entre eles a viagem do presidente da China, Xi Jinping.

Qadri pôs fim ao protesto em outubro e Khan continua com ela, embora já tenha perdido quase toda sua intensidade.

A neutralidade do estamento militar e o momento no qual ocorreram os protestos despertaram as suspeitas de que o Exército buscava desestabilizar o governo de Sharif, e recuperar seu histórico controle sobre segurança, política externa do país e conter uma aproximação com a Índia.

Ao chegar ao poder, Sharif deu sinal verde para o julgamento de Musharraf por alta traição, devido a sua decisão de suspender a ordem constitucional em 2007, acusação que pode acarretar a pena capital.

Trata-se da primeira vez que um ditador militar é julgado no país e Musharraf continua sem poder sair do Paquistão por ordem judicial, apesar dos vários rumores que assinalaram que o Governo lhe permitiria sair para visitar sua mãe doente.

Sharif, além disso, iniciou uma aproximação com a Índia, eterno rival paquistanês com o qual travou três guerras, algo a que o Exército se opõe historicamente.

O líder paquistanês participou em junho da posse do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e por um breve período de tempo pareceu que ambos os rivais poderiam aproximar posturas.

No entanto, em outubro começaram uma série de violações do cessar-fogo na fronteira que causaram a morte de pelo menos 20 civis, em uma das piores escaladas de violência entre ambas as nações nos últimos anos.

Outro ponto de tensão entre o Exército e Sharif foi no início em junho de uma ofensiva militar contra os insurgentes na região tribal do Waziristão do Norte, após o fracasso das negociações do Governo com os talibãs, algo que Sharif esperava atrasar.

Nessa ofensiva, que segundo o Exército paquistanês deixou um balanço de 1.100 insurgentes e 90 soldados mortos, reduziu o número de ataques em 30%, de acordo com o Instituto de Estudos da Paz de Islamabad.

No entanto, um ataque suicida que matou 57 pessoas e feriu mais de cem no posto fronteiriço paquistanês de Wagah no começo de novembro lembrou ao país asiático que a luta contra o Islamismo radical não acabou.

Se a relação com a Índia permanece estagnada, a situação com seu outro grande vizinho, o Afeganistão, parece iniciar uma nova era após a chegada ao poder do presidente Ashraf Gani e o adeus do ex-mandatário Hamid Karzai.

Gani fez sua primeira viagem oficial em novembro a Islamabad, em uma visita carregada de mensagens conciliadoras e na qual Sharif ressaltou seu apoio ao país vizinho. EFE

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