Putin garante não sentir saudades da União Soviética ou da Guerra Fria
José Antonio Vera e Virgínia Hebrero.
São Petersburgo (Rússia), 24 mai (EFE).- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está convencido que tem razão na crise da Ucrânia, assegurou que não quer reviver o império soviético e disse que seu país não poderá ser isolado com sanções políticas ou econômicas.
O chefe do Kremlin também opinou que nem a Rússia nem o Ocidente estão interessados em voltar à Guerra Fria e ofereceu colaboração a Washington e a Bruxelas, ao mesmo tempo em que garantiu aos europeus que sempre terão gás russo, apesar do histórico contrato de provisão assinado com a China.
Assim se expressou o líder russo em entrevista aos presidentes de 12 agências internacionais, entre elas a Agência Efe, no Palácio de Constantino, sua residência marítima nos arredores de São Petersburgo, organizada pela agência “Itar-Tass”.
A acusação feita por alguns no Ocidente que quer recriar a antiga União Soviética com sua política em relação à Ucrânia “não só não corresponde com a realidade, mas é um instrumento da guerra informativa”, ressaltou Putin.
“Jamais me passou pela cabeça (anexar a Crimeia à Federação Russa). Não tinha planos de fazer isso”, assegurou o chefe do Kremlin, que lembrou que 96% dos moradores votou em referendo pela independência da Ucrânia e depois o Parlamento regional – o mesmo que existia sob a Ucrânia- aprovou a decisão de reunificar-se com a Rússia.
“Não temos intenção de restabelecer o império. O que queremos é aproveitar as relações econômicas e os laços culturais” entre os países do antigo espaço soviético e o resto do mundo, comentou.
Putin lamentou que alguns meios de comunicação e políticos ocidentais “tentem nos colocar esse rótulo, que queremos recompor o império, a União Soviética, submeter todos a nossa influência”, e lamentou que repitam isto “como um disco arranhado”.
O líder russo lembrou ainda que nos próximos dias será assinado um acordo sobre a criação da União Econômica Euroasiática, a etapa seguinte de integração estrutural de Rússia, Belarus e Cazaquistão, unidos até agora na União Aduaneira.
“Deem uma olhada objetiva e profissional nesse documento. O que tem de recriação de um império? Nada, zero. Só inclui aspectos relacionados com a união de nossos esforços no âmbito econômico”, ressaltou Putin.
“Fico surpreso por Bruxelas não querer cooperar com estas iniciativas e que vejam estes processos integracionistas como uma ameaça”, acrescentou.
Putin advogou também por “rejeitar preconceitos políticos e cooperar” e assegurou que não acredita que a crise ucraniana possa provocar uma nova “Guerra Fria”, pois “ninguém está interessado nisso”.
Frente a isso, disse que “o apoio a um golpe de Estado anticonstitucional é precisamente uma maneira de resolver pela força as disputas”, em alusão ao respaldo ocidental à oposição que depôs em fevereiro o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich.
Putin reiterou que a Rússia respeitará os resultados das eleições presidenciais de amanhã, domingo, na Ucrânia, e que Moscou trabalhará com as estruturas de poder que surjam desses pleitos.
Insistiu, no entanto, que “teria sido mais lógico realizar primeiro um referendo, aprovar uma Constituição e, com base nessa lei fundamental, realizar as eleições”.
“Agora (em Kiev) dizem que depois adotarão uma nova Constituição. Se é assim, o novo presidente poderia ser uma figura de transição ou pelo contrário, poderia acumular o máximo de faculdades”, opinou o presidente russo.
Putin insistiu em sua tese que, segundo a Constituição da Ucrânia, o presidente legítimo do país é Yanukovich, atualmente refugiado na Rússia.
O presidente russo também foi perguntado sobre os receios surgidos na Europa pelo histórico contrato assinado esta semana no valor de US$ 400 bilhões pelo qual a russa Gazprom fornecerá à China 38 bilhões de metros cúbicos anuais durante 30 anos a partir de 2019.
Nesse sentido, Putin tranquilizou os parceiros europeus ao garantir que a gigante Gazprom tem capacidade para aumentar sua produção de gás de 450 mil até 650 mil metros cúbicos ao ano.
“Não temos consumidores (para explorar mais gás), mas não teríamos problemas em aumentar os volumes”, concluiu Putin. EFE
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