Quase 90 mil paraguaios completam 2 meses desabrigados por inundações

  • Por Agencia EFE
  • 27/07/2014 14h22

Santi Carneri.

Assunção, 27 jul (EFE).- Quase 90 mil pessoas continuam desabrigadas há dois meses em Assunção, a capital do Paraguai, onde um total de 220 mil habitantes recebe assistência do governo após sofrer os embates das inundações que afetam várias regiões do país.

Tanto a Secretária de Emergência Nacional (SEN), que coordena as ajudas aos afetados, como as ONGs que os auxiliam, destacam que o saneamento e o acesso à água são as principais carências das pessoas que se amontoam nos 126 assentamentos espalhados pela cidade desde que o rio Paraguai começou a subir.

Milhares de casinhas feitas pelas próprias vítimas com chapas de zinco e tapumes que as autoridades cedem a eles foram aparecendo nas calçadas de avenidas e nas praças centrais da capital, inclusive em fremye ao Congresso.

“Precisamos melhorar esses lugares, precisamos de um teto digno se não vamos poder voltar a casa”, disse à Agência Efe Pánfilo Ayala, de 43 anos e pai de quatro filhos que partiram com sua mãe para o interior do país para se refugiar na casa de parentes.

Ayala trabalha na reciclagem de lixo em Cateura, o aterro sanitário municipal, uma das regiões mais afetadas pelos 7,38 metros que o rio chegou a alcançar em 10 de julho e que se reduziu lentamente para 7,16, ainda muito acima de sua cota habitual.

No bairro, onde 3 mil habitantes vivem diretamente do trabalho do lixeiro, a maior cheia do rio Paraguai em 20 anos invadiu suas casas, escolas, lojas e ruas.

“Não podemos sair porque a maioria de nós trabalha aqui no lixão”, explicou Ayala do precário acampamento onde vive agora, montado a poucos metros das montanhas de resíduos mal cheirosos que dezenas de caminhões trazem sem parar.

Segundo disse à Agência Efe o responsável da Secretaria de Emergência do Paraguai (SEN), Joaquín Roa, a descida do rio está aliviando a população: “mas ainda não temos famílias que possam voltar devido às condições de suas casas em Assunção”, acrescentou.

“A todos faltam muitas coisas, por exemplo: colchões, casacos… temos muitas crianças sem sapatos. Dão metade do que precisamos. Com sete ou oito chapas de zinco uma família não constrói uma casa, no máximo um banheiro”, reclamou Ayala.

“É preciso muita ajuda e água. Se o frio vem (e esperamos que não volte a chover), entra por todos os lados”, disse à Agência Efe Victoriana Ruiz Díaz, de 70 anos.

A idosa se refugia com sua filha e as quatro netas no mesmo assentamento que Ayala, mas em um casebre de madeira com duas camas e plásticos para cobrir o teto, bem em frente a sua casa de tijolos submersa no rio.

Alguns dos afetados tentam voltar ao trabalho abrindo suas lojas de alimentos ou barbearias, mas a maioria trabalha sem parar para melhorar seu abrigo ou procurar comida e água.

Cachorros de rua, vermes e água parada compõem o cenário comum em vários dos assentamentos por onde andam os aproximadamente 50 mil adolescentes e crianças removidos em Assunção.

“A falta de saneamento pode afetar o estado de saúde das pessoas”, explicou à Efe a chefe do departamento de Resposta a Desastres da Cruz Vermelha Paraguaia, Ariana Bernal, organização que auxilia cerca de mil famílias em Assunção e outras mil no departamento de Ñeembucú, outro dos mais afetados do país.

“Por outro lado, o clima não ajuda muito, sobretudo pelas chuvas, pois afeta a salubridade e o estado emocional das pessoas”, acrescentou.

Bernal destacou que as crianças se veem obrigados a ficar em pequenos espaços fora de sua casa e seu entorno, o que “cria uma tensão” que se transforma em agressividade.

Outra parte da população vulnerável, lembrou a especialista da Cruz Vermelha, são as mães solteiras, a terceira idade e as pessoas incapacitadas que dependem do apoio comunitário. EFE

sct/tr

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