Quebra-cabeça étnico marca candidaturas nas eleições do Afeganistão
P. Miranda.
Cabul, 4 abr (EFE).- As três candidaturas favoritas nas eleições presidenciais deste sábado no Afeganistão têm no componente étnico de seus integrantes as principais vantagens para obter a vitória em uma disputa de resultado imprevisível.
Abdullah Abdullah, Ashraf Ghani e Zalmai Rasul, os três presidenciáveis com mais chances, fizeram campanha com seus respectivos candidatos a vice-presidente para buscar o apoio das diversas comunidades do país.
“Ainda estamos em um país com uma identidade em construção, por isso, que a lealdade à comunidade étnica se mantém como um fator-chave na hora de escolher os líderes”, explica à Agência Efe o diretor do Centro de Estudos Estratégicos de Cabul, Waliullah Rahmani.
“Neste país ainda é muito difícil ter um voto majoritário só por razões políticas, o que motiva os acordos entre líderes, tão frequentes no Afeganistão”, prossegue Rahmani.
Dois dos candidatos, Ghani e Rasul, são de origem pashtun e ambos escolheram líderes de outras etnias como seus aspirantes à vice. Rasul, ex-ministro das Relações Exteriores que tem o respaldo já pouco dissimulado do atual presidente, Hamid Karzai, conta com Ahmad Zia Massoud, líder da comunidade tajique e irmão do mártir por excelência na luta contra os talibãs, Ahmed Chah Massoud, conhecido como “Leão de Panjshir”.
Os tayikos são cerca de um quarto da população, mas sua lealdade está mais dividida que a de outras minorias no país. Mais controversa é a fórmula escolhida por Ghani, que optou por atrair o voto de cerca de 9% de uzbeques mediante a aliança com o líder indiscutível dessa etnia, Rashid Dostum, polêmico ex-militar acusado de graves crimes de guerra.
“O que no começo pode ser uma vantagem, como a aliança de Ghani com Dostum, pode se transformar em um contratempo em um possível segundo turno, já que muitos pashtuns odeiam Dostum e não votarão nele”, diz Rahmani.
Por sua vez, Abdullah Abdullah é considerado líder da comunidade tajique por sua ascendência materna e por seu estreito vínculo com Ahmed Chah Massoud, que morreu em 2001 em um atentado orquestrado pela Al Qaeda com apoio talibã exatamente dois dias antes dos ataques de 11/9 nos Estados Unidos.
Sua opção foi buscar um contrapeso que lhe permita ter o apoio de parte de 40% da população pashtun do país. Para isso, escolheu como possível vice-presidente Mohammed Khan, procedente de um partido islamita com implantação em regiões pashtuns.
Uma coincidência dos três favoritos no pleito de amanhã é que todos escolheram candidatos à segunda vice-presidência membros da comunidade hazara, que conta com cerca de 9% do eleitorado, mas é famosa por seu alto nível de mobilização eleitoral.
No entanto, os cálculos prévios enfrentam à complexidade do quebra-cabeça étnico do país e às incertezas que assaltam este pleito, pelas ameaças de segurança e pela falta de garantias sobre sua transparência.
“O fator étnico pode ser importante, mas não é o único a ser levado em conta, já que as lealdades eleitorais estão marcadas por múltiplos elementos. É muito complexo”, adverte à Efe Martine van Bijlert, da Rede de Analistas Afegãos.
As incógnitas começarão a ser resolvidas amanhã na primeira hora, quando os afegãos começarem a comparecer ao pleito nos quais está em jogo não só o nome do sucessor de Hamid Karzai, mas a credibilidade do processo democrático afegão. EFE
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