Raúl Castro ganha lugar próprio na história ao fazer as pazes com os EUA
Soledad Álvarez.
Cidade do Panamá, 11 abr (EFE).- Raúl Castro, irmão e sucessor de Fidel, ocupará um lugar próprio na história como o presidente da Cuba revolucionária que fez as pazes com os Estados Unidos após mais de meio século de um conflito surgido na época da Guerra Fria.
Aos 83 anos, o pragmático Raúl protagonizou junto a Barack Obama no Panamá o esperado degelo entre a ilha comunista e o tradicional inimigo da Revolução que triunfou em 1959 sob a liderança de Fidel Castro, que durante décadas liderou contra o “imperialismo ianque” na América.
Também ficará para a posteridade seu inédito discurso na VII Cúpula das Américas, a primeira que contou com a participação da ilha e na qual Castro mostrou emoção e reafirmou a vontade de avançar no processo de normalização das relações com Washington.
À frente de Cuba desde 2008, quando Fidel deixou o poder devido a uma grave doença, o caçula dos Castro exerceu um mandato marcado por suas reformas econômicas para “atualizar” o socialismo cubano, mas com o objetivo de garantir a sobrevivência da Revolução.
Empreendeu em Cuba uma abertura muito controlada à iniciativa privada, flexibilizou as leis para atrair mais investimentos e, no plano social, suprimiu proibições que os cubanos reclamaram durante décadas, como a lei migratória que normalizou as viagens ao exterior.
O plano de “atualização” limitou a um máximo de dez anos os mandatos políticos e estatais, incluindo a presidência do país. Sendo assim, Raúl Castro deixará o cargo em 2018.
Durante seu mandato, tentou encaminhar um revezamento geracional institucionalizado com diversas mudanças nas estruturas do poder, onde aumentou a presença de dirigentes com menos de 60 anos, militares, mulheres, negros e mestiços tanto no governo como nos órgãos do Partido Comunista (PCC, único).
Com sua “atualização econômica”, que muitos equiparam aos processos reformistas praticados em países comunistas como China e Vietnã, Raúl Castro conseguiu suavizar a imagem internacional de Cuba e obter conquistas diplomáticas como a reinserção continental da ilha, que culminou com sua participação na VII Cúpula das Américas do Panamá.
Em seu mandato também foi iniciado o degelo com a União Europeia, com uma negociação para chegar a um acordo bilateral e normalizar relações marcadas pela restritiva “posição comum” que prejudicava Havana desde 1996.
Mas, sem dúvidas, o episódio pelo qual Raúl Castro ganhou um lugar próprio na história, e fora da sombra do irmão Fidel, foi o acordo para o restabelecimento de relações com os Estados Unidos.
No entanto, Raúl Castro lembrou que a principal batalha ainda está pendente: o fim do embargo econômico, comercial e financeiro, o “bloqueio”, como é chamado em Cuba, dos EUA contra a ilha.
Nascido no dia 3 de junho de 1931 no sítio familiar de Birán, Raúl, o caçula dos filhos homens do galego Ángel Castro seguiu desde a universidade os passos do irmão Fidel na preparação do movimento rebelde contra Fulgencio Batista.
Raúl participou do fracassado assalto aos quartéis Moncada e Carlos Manuel de Gramados, que marcou o início da luta contra a ditadura em 1953, foi preso como o irmão e, após serem anistiados, fugiram para o México, onde os insurgentes prepararam a volta a Cuba com o iate “Granma”.
Após o triunfo da Revolução em 1959, teve um papel fundamental como número 2 do país desde os cargos de primeiro vice-presidente dos conselhos de Estado e de Ministros, segundo secretário do Comitê Central do Partido Comunista e ministro das Forças Armadas Revolucionárias.
Uma das conquistas mais destacadas de Raúl Castro foi transformar o exército rebelde em modernas Forças Armadas que muitos consideram a instituição mais estável, respeitada e melhor dirigida do regime, e que além de defender o país garantiram a sobrevivência econômica da ilha após o fim da URSS.
O general Castro construiu organizadamente um exército de “soldados-empresários” do qual surgiu uma elite militar-gerencial que dirige as principais empresas estatais do país e que aumentou seu poder e influência na que alguns analistas chamam de “etapa militar do castrismo”.
Considerado como um homem que gosta de trabalhar em equipe, Raúl Castro tem fama de pragmático, organizado e sistemático, uma personalidade muito diferente, embora para muitos complementar, à do carismático irmão mais velho.
Os biógrafos dos Castro relatam que os irmãos já tiveram inflamadas discordâncias, mas em público e de forma oficial nunca foram percebidos rachas entre ambos.
Muito mais chegado à família que Fidel, Raúl Castro se casou com sua companheira de luta em Sierra Maestra, Vilma Espín – falecida em junho de 2007 – com quem teve quatro filhos: Mariela, Nilsa, Déborah e Alejandro. EFE
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