Rebeldes permitem acesso ao campo onde avião malaio caiu
Ignacio Ortega
Grabovo (Ucrânia), 19 jul (EFE).- Os rebeldes pró-russos permitiram neste sábado o acesso de especialistas internacionais e jornalistas, embora com limitações, ao campo onde ainda está a maioria dos corpos das vítimas do acidente do avião malaio, que caiu no leste da Ucrânia comn 298 pessoas a bordo.
“Não fotografem as pessoas. Estão avisados. Não quer ver ninguém focando nos rostos que eu quebro suas câmeras”, diz o comandante insurgente que garante a segurança na zona de nome “Ugriumi”.
Após superar vários postos de controle rebeldes, se chega ao imenso campo situado nas imediações da aldeia de Grabovo (região de Donetsk) e que é cruzado por uma estreita estrada de asfalto.
O panorama é infernal, já que, 40 horas depois da tragédia em um dos locais calcinados pelo impacto do avião em chamas, ainda estão 20 corpos desnudos, cobertos por fuligem, em posturas impossíveis e com semblantes de indescritível dor.
Misturados com toda classe de aparatos técnicos, cabos e outras peças do Boeing-777, é possível ver adultos e crianças, homens e mulheres, rodeados de malas, mochilas e objetos pessoais, desde livros a computadores, guias e bichos de pelúcia.
Por alguns momentos, assim que os temperaturas sobem, o cheiro é insuportável. Alguns jornalista sentem náuseas e abandonam o local.
Enquanto isso, justo ao outro lado da estrada se encontra parte da fuselagem e um dos aerofólios do aparelho, onde é possível ver o símbolo da Malaysia Airlines, a fatídica companhia que já perdeu em março outro avião com 239 pessoas abordo.
Os socorristas do Ministério para Situações de Emergência estão recolhendo todos os corpos, que são transferidos em maca às margens da estrada, onde se amontoavam hoje mais de meia centena de sacos, como a Agência Efe pôde constatar.
Quando encontram um corpo ou uma parte do corpo de um dos passageiros, marcam o ponto com uma bandeira branca, por isso que o campo está virtualmente salpicado por bandeirolas.
“Já encontramos 200 corpos, sem contar os mutilados”, assegura à Efe um dos membros das equipes de resgate, que contam com a ajuda de 30 mineiros locais.
Sergei, um mineiro de 23 anos, diz ter achado vários passaportes, dois deles pertencentes a cidadãos britânicos.
Estrada abaixo se encontra o marco zero do acidente, uma superfície calcinada de 3 mil metros quadrados onde figura uma das hélices e o motor do aparelho.
A 50 metros desse lugar se encontra a casa de Aleksandr, um camponês que presenciou o acidente, já que parte da fuselagem do Boeing caiu sobre seu telhado e a onda expansiva esteve a ponto de acabar com sua vida e a de sua esposa.
Sua casa foi um dos lugares visitados hoje pela delegação da OSCE, cujos membros tiveram que sair do automóvel, já que os milicianos obrigaram a se deslocar a pé pela estrada e impediram de chegar ao campo.
De pouco valeu a advertência do chefe da missão, Alex Hug, que se queixou pessoalmente sobre os impedimentos perante Aleksandr Borodai, primeiro-ministro da autoproclamada república popular de Donetsk.
Hug tentou convencer em vão os milicianos que tinha autorização para atuar com total liberdade, mas o comandante insurgente armado com uma metralhadora e uma caixa repleta de munição o impediu com a desculpa de não obstruir os trabalhos de resgate.
Após quase meia hora de discussão, os especialistas da OSCE, se resignaram a seguir a rota marcada pelos milicianos, que negam ter derrubado o aparelho malaio, como apontam os Estados Unidos.
“Isso é mentira. A catástrofe é uma provocação dos serviços de segurança da Ucrânia”, disse “Ugriumi”.
Enquanto isso, Kiev denunciou hoje que os rebeldes que controlam a zona levaram 38 corpos em caminhão a Donetsk, o que levou às autoridades malaias a exigir que se impeça o acesso de intrusos ao campo para permitir uma investigação objetiva do ocorrido.
Embora não tenha declarado um cessar-fogo propriamente dito, apesar das insistentes reivindicações internacionais, e de vez em quando serem ouvidos disparos, de fato rege uma espécie de trégua desde que aconteceu o dramático fato.
Os rebeldes e as forças governamentais que se enfrentam desde abril se comprometeram a facilitar os trabalhos de resgate em um raio de 20 quilômetros ao redor de Grabovo. EFE
io/ff
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