Redação do Enem: possíveis temas, como não zerar e o que fazer na reta final

  • Por Thiago Navarro/Jovem Pan
  • 03/11/2016 14h26
Marcos Santos/USP Imagens vestibular

O Enem chegou e o frio na barriga já atinge os mais de oito milhões de alunos que realizam a prova neste fim de semana pelo Brasil. E um dos maiores dramas do exame é a redação, que será aplicada neste domingo (5) junto a outras 90 questões alternativas.

A nota do Exame Nacional do Ensino Médio é utilizada por todas as universidades federais pelo País (por meio do Sisu), além de outras instituições públicas (como alguns cursos da USP) e diversas faculdades particulares. A nota da redação costuma ter grande peso na seleção dos candidatos.

O Portal Jovem Pan conversou com três professoras especialistas em redação e obteve dicas sobre o que fazer nessas horas finais antes do tão temido exame, como agradar os avaliadores do Enem – e não correr o risco de zerar a nota da redação, e a melhor forma de organizar o tempo no momento da prova.

Foram ouvidas Kátia Isidoro, professora de literatura e redação do curso e colégio Objetivo; Jaqueline Monteiro, coordenadora do departamento de redação do colégio Agostiniano São José e professora particular; e Rose Fekete, professora do colégio Santa Catarina, ex-Poliedro e Objetivo e também professora particular.

Temas

As três professoras foram questionadas sobre qual é o possível tema da redação do ENEM de 2016 e fizeram as suas apostas. O acesso à cultura e a tecnologia (como marco civil da internet e uso excessivo de celulares) foram temas lembrados por todas. Kátia e Jaqueline citaram a inclusão no esporte e a obesidade. Rose aposta em temas relacionados à metrópole como eventual tema e Jaqueline cita a violência e a mobilidade urbana.

O ENEM é hoje a maior porta de acesso ao ensino superior do País (Foto: USP imagens)

Jaqueline lembra que os temas dos dois últimos anos (publicidade infantil e violência contra a mulher; veja todos os temas ao final do texto) se relacionavam com importantes acontecimentos políticos do primeiro semestre: o PL 5921/01, que pretendia proibir propagandas voltadas às crianças e a lei do feminicídio, respectivamente.

Confira possíveis temas que podem ser cobrados na redação do Enem:

– O esporte como fator de inclusão;

– Democratização da cultura;

– Obesidade;

– Questões ligadas às metrópoles (como mobilidade urbana);

– Refugiados (no Brasil e no mundo);

– Intolerância religiosa;

– Tecnologia (como marco civil da internet, ou uso excessivo dos novos dispositivos);

– Preconceito racial;

– Homossexualidade ou os diversos formatos de família;

– Escassez hídrica;

– Questão ambiental (como reciclagem ou desastre de Mariana);

– Aumento das manifestações, algo como “o despertar” do brasileiro contra a corrupção;

– Questões do universo indígena.

O que o ENEM espera (e como não zerar a redação)?

Como o ENEM tem um “aspecto mais social”, lembra Jaque, e “cobra cidadania”, ressalta Kátia, os temas muitas vezes têm a ver com os direitos humanos. E afrontá-los pode fazer o aluno ficar com “zero” na redação, alertam todas as entrevistadas.

Jaqueline sugere que o aluno pesquise e leia um pouco sobre quais são os principais direitos humanos. A professora, que tem amigas corretoras do Enem, explica que são passados aos avaliadores exemplos de infrações aos direitos humanos que ocorreram em provas dos anos anteriores e que seriam dignos de anulação da escrita.

Ela descarta subjetividade nesta análise e lembra que cada redação passará pelas mãos de no mínimo dois corretores. Se houver uma divergência muito grande na nota, um terceiro dá o veredito final.

Outro erro que pode zerar a redação é a mudança da tipologia. O Enem exige um texto dissertativo argumentativo, em que o aluno demonstre sua opinião e apresente sugestões de solução para a problemática apresentada. Um perigo, alerta Jaqueline, é fazer um texto dissertativo expositivo, em que o estudante apenas narra o acontecimento como se fosse uma notícia, sem se posicionar.

Kátia também destaca esse aspecto e dá outras dicas para que o candidato não veja sua nota despencar: “o aluno tem que seguir a estrutura de um texto dissertativo-argumentativo. Com introdução, desenvolvimento e conclusão da tese. O Enem solicita que o aluno faça a proposta de intervenção (solução para o problema). É importante escrever um texto claro e objetivo. Não são bem avaliadas redações prolixas (muitos longas, repetitivas)”, alerta também a professora do Objetivo.

Rose enfatiza ainda que o Enem quer um texto “com autoria, estruturado, coeso e bem redigido”. A professora sugere atenção “ao tema, ao uso da coletânea (textos que o Enem dá como referência), às inferências e à proposta de intervenção”.

Oficialmente, as cinco competências que a prova avalia são: domínio da escrita formal da língua portuguesa, compreensão do tema aplicação de bom conteúdo sociocultural em texto dissertativo-argumentativo em prosa; organização das ideias e argumentos; coesão do texto com bons mecanismos linguísticos (como o bom uso das conjunções) e boa elaboração de proposta de intervenção, respeitando os direitos humanos.



Como se preparar nesta reta final?

Faltando horas para o Enem, o que fazer para melhorar minha redação? As professras sugerem:

“O aluno pode rever as redações já corrigidas pelos professores e estudar os erros mais comuns na véspera da prova. Por exemplo: uso da crase ou da vírgula”, cita Kátia. Ela lembra que “na véspera da prova é importante manter a rotina, continuar com o ritmo de estudo e dormir bem”.

Jaqueline vai na mesma linha: “não é hora de ficar produzindo textos, mas sim de olhar os textos já produzidos e perceber aquilo que tem errado muito para evitar na hora da prova, como o uso da crase”. Ela sugere também “fazer alguma coisa que relaxe e, ao mesmo tempo, acrescente”, como pesquisar assistir a um filme que tenha a ver com os assuntos e “olhar frases célebres de filósofos”, para eventualmente usá-las na redação como “argumento de autoridade”.

Rose também aposta em “focar na revisão dos temas”.

Tanto para a prova do Enem quanto para o desenvolvimento constante da habilidade de escrever, Kátia diz: “a principal dica é ler muito. Um bom leitor é um bom escritor. Estar sempre informado dos temas atuais e utilizar as informações de outras disciplinas (história, geografia, literatura, biologia, por exemplo) para compor sua argumentação”.

Fazer antes, durante ou depois?

O aluno terá 5h30 para fazer 90 questões-teste mais a redação. A dúvida: qual é o melhor momento para se dedicar ao texto dissertativo? O Enem espera que o aluno componha o texto em uma hora.

“Escrever no início da prova é interessante porque o aluno não está tão cansado, mas fazer a redação no final também dá tempo ao candidato de pensar sobre o tema”, pondera Kátia.

“Oriento meus alunos a começar pela redação e fazer pelo menos o rascunho logo no começo. Depois vai para as questões objetivas, volta, revisa o texto, mesmo que rápido, e passa a limpo. Mas o ideal começar pela redação, porque o estudante está com a mente descansada”, propõe Jaqueline.

Rose, por sua vez, dá outra dica: “primeiro as questões e redação por último. Às vezes, há questões na prova que servem de base para a redação”, cogita.

“Fica a cargo do candidato escolher o melhor momento de escrever”, conclui Kátia.

Anos anteriores

Lembre quais foram os temas das redações do ENEM nos anos anteriores, desde 2009, quando a prova mudou de formato:

2009 – “Qual o efeito em nós do ‘Eles são todos corruptos’?” e “Valorização do Idoso”

2010 – “Ajuda humanitária” e (prova reaplicada): “O trabalho na construção da dignidade humana”

2011 – Viver em rede no século XXI

2012 – O movimento imigratório para o Brasil no século XXI

2013 – Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil

2014 – Publicidade infantil em questão no Brasil

2015 – A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

Imagens do texto: Freeimages

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