Rede de escolas estende as mãos a árabes e judeus em Israel

  • Por Agencia EFE
  • 11/09/2015 11h39

Cristina García Casado.

Jerusalém, 11 set (EFE).- Em seis escolas de Israel 1.350 crianças árabes e judias dividem a sala de aula, aprendem a língua do outro, brincam juntos, falam da história de suas famílias e constroem lado a lado (“Hand in hand”) comunidades integradoras em uma sociedade rachada.

Quando Fadi Suidan se mudou para Jerusalém com sua família, buscou uma alternativa ao sistema público escolar, que separa as crianças e perpetua um modelo de sociedade onde judeus e árabes praticamente não têm pontos de encontro.

Agora sua filha de oito anos, árabe, estuda em um dos seis centros que a rede de escolas Hand in hand criou em 1998 com financiamento público, ajuda estrangeira e um custo anual de US$ 1.300, semelhante ao de algumas escolas especializadas.

“Nesta escola, especialmente nos momentos mais duros, como na guerra em Gaza no ano passado, saímos para dizer que, aconteça o que acontecer fora destes muros, queremos estar juntos”, declarou Suidan à Agência Efe em uma das salas de aula da escola em Jerusalém.

Nesta escola ocorreu o capítulo mais duro da história destas escolas: em dezembro três adolescentes judeus de uma organização radical queimaram uma das salas de aula após se aproveitarem que o colégio estava vazio e após pichar frases racistas contra os árabes e contra a convivência.

“Nesse momento foi quando mais nos demos conta de que éramos um alvo. Que há algo no mero fato de estarmos juntos que é muito ofensivo para algumas pessoas”, contou à Efe Noa Yammer, uma jovem judia dos Estados Unidos que vive desde os 18 anos em Israel e coordena a comunicação desta rede de escolas.

“No ano passado fomos alvo de vários ataques, a maioria de extremistas judeus, fundamentalmente com pichações racistas contra os árabes. Temos muita gente que nos apoia, mas há muitas outras que não estão interessadas nisto”, acrescentou.

Esse ataque foi para a Hand in hand uma lembrança do quão arriscada é sua proposta em uma sociedade partida pelo conflito israelense-palestino, mas também serviu para comprovar que muitos veem em seu modelo integrador o único futuro possível.

No dia seguinte ao ataque, centenas de pessoas se aproximaram da escola em solidariedade e uma semana depois já eram mais de dois mil os que se manifestavam em defesa do modelo integrador.

O ataque pôs a escola no foco, e por ela desfilaram vários políticos e líderes comunitários, tanto árabes como judeus.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, recebeu as crianças em sua casa, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convidou dois para ir à Casa Branca.

A comunidade de Hand in hand, que agrupa mais de três mil pessoas, saiu fortalecida após o ataque, e continua determinada a continuar a crescer: o objetivo é chegar a 15 centros nos próximos anos.

Agora a rede tem 1.350 alunos distribuídos em seis unidades em Jerusalém, Galileia, Wadi Ara, Tel Aviv, Yafo e Tira, onde não só educa as crianças na tolerância, mas envolve suas famílias em programas comunitários que vão desde o esporte até a arrecadação de fundos para as vítimas do conflito.

Nestas escolas as crianças não só aprendem a língua do outro, mas também uma narrativa diferente da que ouvem na rua: os livros de história incluem tanto o relato israelense como o palestino.

Nessa disciplina, a mais delicada, um professor árabe e um professor israelense apresentam os fatos históricos junto com as duas versões para mostrar tolerância e ensiná-los que o importante não é estar de acordo, mas estar disposto a escutar o outro.

Esta rede de escolas tem também seu próprio calendário letivo: todas as crianças aproveitam normalmente os feriados judeus, cristãos e muçulmanos.

Mais complexo é o momento de abordar as festividades nacionais do Estado de Israel, como o dia que lembra a declaração de independência, em 14 de maio de 1948.

“Para os judeus esse dia é esse momento milagroso no qual, após anos de perseguição e do Holocausto, têm sua terra. Mas os palestinos lembram desse dia como uma catástrofe nacional, o momento em que seus parentes foram expulsos de suas casas, se transformaram em refugiados, o momento em que perderam muitas vidas e propriedades”, explicou Yammer.

“Na escola não encontramos a solução perfeita, mas damos a chance de as crianças falarem de suas próprias histórias, de qual é o ponto de vista em sua casa, do que viveram seus familiares”, detalhou a jovem judia.

Essa é a mesma filosofia que aplicam para abordar os momentos mais duros do conflito hoje em dia, como a guerra em Gaza do ano passado.

“Nós, os pais, nos reunimos na biblioteca e choramos juntos pela situação que havia fora da escola. Um judeu dizia a um árabe que esperava que seus parentes em Gaza não estivessem feridos e o árabe respondia que desejava que seu filho (soldado) voltasse são e salvo de Gaza”, contou Suidan.

“Este é o único lugar de Israel onde se pode ver algo assim”, concluiu Suidan, um dos milhares de pais determinados a permitir que seus filhos desenvolvam sua identidade em uma escola diversificada, e que sejam uma semente de uma sociedade mais integradora. EFE

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