Reféns libertados pelo Estado Islâmico tentam retomar suas vidas

  • Por Agencia EFE
  • 22/01/2015 06h31

Yasser Yunis.

Mossul (Iraque), 22 jan (EFE).- Jami Yamu, de 63 anos, viveu cinco meses e 16 dias sob o domínio extremista do grupo Estado Islâmico (EI) no povoado iraquiano de Tal Afar. “Nos maltrataram e tiraram nossos pertences. Não são seres humanos, são monstros”, denunciou em entrevista à Agência Efe.

Aidu Haji, de 68 anos, tem cada segundo gravado em sua mente. “Nos trataram muito mal. Não nos davam comida e nos pressionavam e ameaçavam com armas para que nos convertêssemos ao islã”, lembrou.

Após serem libertados no domingo passado, cerca de 200 yazidis voltam a sentir a vida, embora com o rosto pálido pelo cansaço e a saúde deteriorada após cinco meses nas garras do EI em Mossul, no norte do Iraque.

Destroçados e assustados, lembraram à Efe a tortura do cativeiro, que começou quando os extremistas tomaram o controle da maior parte da região norte do Iraque em julho do ano passado, expulsando, matando e sequestrando os seguidores da religião yazidí, aos quais consideram infiéis.

Burges Elias, de 61 anos e com notável cansaço estampado no rosto, relata como “uns barbudos”, em referência aos jihadistas do EI, separaram as mulheres de seus maridos, “de quem não sabem nada desde então”, e as obrigaram a ficar em casa até “serem sequestradas” horas mais tarde.

O grupo de reféns, entre eles crianças, mulheres e idosos, foi preso na prisão da cidade de Tal Afar, ao oeste de Mossul, embora mais tarde tenham sido levados a outro centro, em Al Rin, perto da província de Kirkuk, até sua libertação.

Ao fim do sequestro, foram andando até zonas controladas pelas forças curdas, segundo explicou à Efe o diretor de Assuntos Yazidis na província de Dohuk, Hadi Dubani, que afirma que a libertação se deve ao fato dos sequestrados “sofrerem doenças crônicas”.

Os 196 libertados foram levados a Arbil, capital do Curdistão iraquiano, para passar por exames médicos e, posteriormente, ir a um templo em Dohuk. Em Dohuk, aonde chegaram de ônibus, foram recebidos com aplausos, abraços e lágrimas de moradores e alguns parentes.

Uma das liberadas, de 70 anos de idade, morreu ao descer do ônibus e abraçar uma de suas filhas e seu primo, Jairi Shankali, contou que a mulher yazidí não aguentou o cansaço acumulado após cinco meses de sequestro.

Jasem Jamu quase não tinha palavra. Aos 73 anos, está “esgotado” e sua maior lembrança é de como os jihadistas matavam os jovens yazidis e capturavam suas mulheres.

“Estávamos em um prédio muito grande retidos por homens que andavam armados e de lá vimos mais de 500 mulheres yazidis que foram capturadas em diferentes aldeias de Sinjar. Não sabemos onde estão agora”, acrescentou Jamu.

A alguns dos sequestrados, os jihadistas explicaram que o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, tinha dado um indulto aos yazidis e que por isso seriam libertados. No entanto, fontes oficiais do Curdistão mantêm a versão de que a libertação aconteceu em troca do pagamento de uma soma de dinheiro pelo governo curdo.

Por sua vez, em entrevista à Efe, o representante dos yazidis no Conselho Provincial de Ninawa, Jadida Hamua, pediu à comunidade internacional e a ONU para ajudar na libertação dos mais de cinco mil cidadãos sequestrados pelo EI.

Os 196 yazidis passaram mais de cinco meses como prisioneiros do radicalismo do Estado Islâmico, mas outras centenas membros de sua comunidade não tiveram a mesma sorte e continuam presos, pressionados a deixar sua fé.

Enquanto isso, os libertados viverão em um templo em Dohuk à espera da libertação de seus parentes e, sobretudo, até poder recuperar a casa em que viviam e conseguir algum dinheiro para comer. EFE

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