Refugiados comparam campo de internamento na Hungria com base de Guantánamo
Antonio Sánchez Solís.
Roszke (Hungria), 8 set (EFE).- “Sinto-me como um prisioneiro”, disse Rachid, atrás da dupla cerca no campo de internamento de Roszke, no sul da Hungria, por onde continuam a entrar sem pausa refugiados de países onde a guerra tornou impossível continuar a viver.
Rachid é sírio. Junto com ele chegam afegãos, bengaleses, paquistaneses e iraquianos. Eles se queixam de não ter comida suficiente, água ou cobertores, que não podem tomar banho, que falta cigarro (um pacote lançado sobre a cerca por um jornalista se transformou em um valioso troféu), que ninguém diz até quando estarão retidos.
“É Guantánamo”, comparou outro, enquanto atrás se ouvia um coro de vozes infantis que pedem comida e para sair.
A questão é complicada, já que a Hungria não faz mais do que aplicar a legislação comunitária de registro de refugiados e que permite restringir seus movimentos enquanto durar o processo.
Contudo, a Anistia Internacional denunciou que o procedimento não está sendo aplicado de forma adequada e que questões básicas estão sendo descumpridas, como informar apropriadamente estes refugiados, que vêm à Europa fugindo da violência e se veem presos atrás de uma cerca.
O tratamento recebido destoa muito do que caberia esperar de um país da Europa supostamente comprometido com os direitos humanos.
Nesta segunda-feira, um grupo de afegãos fugiu do campo, o que provocou confrontos com a polícia, que não chegou a usar balas de borrachas nem gás lacrimogêneo.
Mais tarde, cerca de 300 refugiados recém-chegados à Hungria que eram conduzidos ao centro fugiram para a estrada gritando “Budapeste, Budapeste”, e foram perseguidos pela polícia.
Rachid e seus companheiros garantem que não foram maltratados fisicamente pela polícia, mas que são desrespeitados e insultados.
Nem a direção geral da polícia nem o escritório estadual de imigração responderam às perguntas da Agência Efe sobre as denúncias dos refugiados.
“Aqui não há sorte, só, talvez, esperança”, respondeu Rachid quando o jornalista a quem atendeu tão amavelmente se despediu e desejou que tudo corresse bem.
Mas se Rachid e seus companheiros se queixam porque não podem sair, Massoud, outro sírio, protesta porque não pode entrar.
Ele chegou à Hungria há quatro dias, e está dormindo na rua com sua família e amigos, entre eles crianças pequenas.
Ele não pôde entrar no campo de retenção porque disseram que está cheio e agora não sabe como continuar sua viagem, abandonar o mais rápido possível Hungria e seguir rumo a seu objetivo, a Suécia, onde tem um irmão.
“Mais tarde, mais tarde”, contou quando pediu para entrar e poder dormir pelo menos em uma barraca.
“Quando? Em dez dias, duas semanas, depois que as crianças tiverem morrido?”, questionou, indignado.
“Na Hungria há problemas grandes. Viemos pela Macedônia, pela Sérvia. Sem problemas. Desde que chegamos aqui, só problemas”, se lamentou.
Embora não tenha claro qual será seu próximo passo, tem certeza que não há volta.
“Na Síria há muitos problemas. Luta, luta. Queria sair, relaxar. Sem mais problemas, sem mais lutas”, contou sobre ter decidido por um êxodo em que está embarcado há um mês.
Enquanto isso, o governo húngaro continua firme em sua postura de linha dura contra a onda de refugiados.
“Os húngaros são hospitaleiros, mas tomarão as ações mais duras possíveis contra aqueles que tentarem entrar na Hungria ilegalmente. A entrada ilegal na Hungria é um crime punido com a prisão”, advertiu o governo húngaro nos textos que está distribuindo nos países pelos quais os refugiados passam. EFE
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