Refugiados sírios superam marca de 1 milhão no Líbano

  • Por Agencia EFE
  • 03/04/2014 15h24
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Susana Samhan.

Beirute, 3 abr (EFE).- O Líbano se transformou em um abarrotado “campo de refugiados” ao receber mais de um milhão de sírios que fugiram da guerra civil em seu país, o que representa a maior concentração per capita mundial de deslocados.

Em comunicado, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) informou que o número de sírios no território libanês superou nesta quinta-feira a marca de um milhão, “um marco devastador agravado por recursos que se esgotam rapidamente em uma comunidade de amparo a ponto de ruptura”.

Atualmente, após a intensificação do fluxo imigratório, os sírios supõem um quarto da população do Líbano, um país com uma superfície de 10.230 quilômetros quadrados e pouco mais de quatro milhões de habitantes.

O responsável da Acnur, António Guterres, ressaltou que receber mais de um milhão de refugiados em massa se mostra complicado para qualquer país, ainda mais no caso do Líbano, “uma pequena nação que sofre dificuldades internas”.

Por conta deste fluxo, a configuração demográfica de muitas regiões libanesas está mudando, como o vale oriental do Bekaa, onde se encontra a maioria dos refugiados (340 mil).

A porta-voz da Acnur na região, Lisa Abu Jaled, reconheceu à Agência Efe que tal fluxo é “definitivamente um peso para o Líbano”: “há muitos povoados do (vale do) Bekaa onde existem mais refugiados sírios do que libaneses, isso em uma área rural onde já havia déficit de infraestruturas e de serviços básicos”.

Além disso, “as necessidades dos sírios são múltiplas, já que muitos chegam apenas com a roupa do corpo”, indicou a porta-voz, que assinalou que a ONU também está respaldando as Prefeituras para poder atender aos deslocados.

No entanto, até agora, a ONU só conseguiu 13% dos fundos que necessita para poder ajudar os sírios no Líbano. Se os esforços do organismo internacional não bastam, a solidariedade dos próprios libaneses compensa.

Um exemplo disso é o caso de Abu Ali, dono de uma loja e terrenos em Kobet al Chumra, na região setentrional de Akkar, que tenta ajudar “sempre que possível” seus vizinhos sírios.

De acordo com ele, que calcula que podem haver cerca de 10 mil sírios na região, a maioria dos deslocados está abrigada em campos de refugiados improvisados, já que as autoridades libanesas não querem estabelecer campos oficiais por temer que os mesmos passem a viver definitivamente no local, como ocorreu com os palestinos.

“Aqui os sírios estão em todas as partes, muitos não estão nem registrados na ONU. Às vezes, quando posso, ofereço alimentos e roupas”, declarou Abu Ali à Efe.

Esta região libanesa, que vive basicamente da agricultura, também passou a usar a mão de obra síria, que é mais barata mesmo com os altos índices de desemprego entre a população local.

“Um libanês cobra por mês cerca de 600 mil libras (US$ 390), enquanto um sírio, que se propõe a trabalhar mais horas, cobram 200 mil libras (US$ 130)”, ressaltou Abu Ali.

Segundo o Banco Mundial (BM), o conflito sírio supôs perdas de US$ 2,5 bilhões na atividade econômica do Líbano em 2013 e ameaça arrastar 170 mil libaneses à pobreza até o final deste ano.

De acordo com o BM, os salários estão sendo reduzidos, e as famílias libanesas lutam para se manterem até o fim do mês.

Marcel, um refugiado sírio de 27 anos que vive em Beirute, se queixa por ser obrigado a receber um salário menor que os libaneses pelo simples fato de ser do país vizinho.

Procedente da cidade de Tabqa, na província setentrional síria de Al Raqqah, abandonou seu país em 2012 junto de seus pais e seus três irmãos, quando o grupo radical Estado Islâmico do Iraque e do Levante chegou ao seu povoado.

“Viemos ao Líbano porque somos cristãos e aqui somos bem recebidos, ao contrário de outros estados árabes”, apontou Marcel, que trabalha em um locutório de propriedade de seu primo, que veio de Beirute em busca de melhores oportunidades de trabalho.

Além dos problemas sociais e econômicos, o Líbano também sofre com a questão da deterioração da segurança no país, já que os confrontos entre opositores e partidários do presidente sírio, Bashar al Assad, se tornou algo frequente em cidades como Trípoli, assim como os bombardeios do lado sírio contra as zonas fronteiriças e os atentados.

Diante deste contexto, o Líbano se encontra dividido entre simpatizantes e opositores do regime sírio, que conta como um de seus principais aliados o grupo xiita libanês Hezbollah, uma das principais forças políticas deste país. EFE

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