Rei Juan Carlos acredita que sucessão abrirá caminho para futuro promissor

Jesús García Becerril.

Madri, 2 jun (EFE).- A abdicação nesta segunda-feira do rei da Espanha, Juan Carlos I, e sua sucessão por seu filho Felipe, abre caminho para um período promissor e de esperança, segundo afirmou o monarca após 39 anos de reinado, período no qual a democracia do país se consolidou após o fim do regime de Francisco Franco.

Juan Carlos de Bourbon, de 76 anos, foi coroado em novembro de 1975, após a morte de Franco, e a Espanha voltou assim a um modelo de Estado monárquico interrompido em 1931, quando seu avô, Alfonso XIII, decidiu ir para o exílio após a vitória dos partidos republicanos nas eleições municipais.

Existe um sentimento comum na Espanha de que a atitude do rei foi decisiva para contribuir para o estabelecimento da democracia, o que foi confirmado ano após ano nas enquetes feitas pelo organismo público Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) e pela opinião dos líderes políticos.

No entanto, os últimos anos foram especialmente difíceis para a sociedade espanhola e para a Família Real, como as próprias pesquisas refletiram, pois a figura do monarca já não era tão valorizada.

Em seu pronunciamento de hoje, o rei se referiu à crise econômica enfrentada pela Espanha desde o final da década passada, e que “deixou sérias cicatrizes no tecido social”.

“Estes anos difíceis nos permitiram fazer um balanço autocrítico de nossos erros e de nossas limitações como sociedade”, reconheceu o rei. Juan Carlos, no entanto enxerga na atual conjuntura uma possibilidade de recuperação.

A crise “também está nos assinalando um caminho para o futuro carregado de esperança (…). Hoje merece passar para a primeira linha uma geração mais jovem, com novas energias, decidida a empreender as transformações e reformas que a conjuntura está demandando e a enfrentar com renovada intensidade e dedicação os desafios do amanhã”, discursou o monarca.

Juan Carlos afirmou que seu filho, o príncipe das Astúrias, de 46 anos, “tem a maturidade, a preparação e o senso de responsabilidade necessário para assumir com plenas garantias a chefia do Estado e abrir uma etapa de esperança na qual se combinem a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração”.

As reações à abdicação foram em sua maioria elogiosas, com palavras de agradecimento de políticos, empresários e de personalidade da cultura, mas também de cidadãos anônimos nas redes sociais.

No entanto, não há unanimidade e alguns políticos aproveitaram para pedir a realização de um plebiscito, no qual os espanhóis decidiram se desejam uma monarquia ou uma república, como foi o caso da terceira força parlamentar, a Esquerda Unida.

Outros, como os nacionalistas bascos e catalães, veem na sucessão a possibilidade de introduzir elementos que permitam aumentar seus poderes.

A renúncia de Juan Carlos de Bourbon ocorreu após vários anos de crise e em um contexto de distanciamento dos cidadãos em relação aos políticos tradicionais.

A própria figura do monarca também se viu atingida nos últimos anos por diversos fatores.

Além de problemas físicos, que obrigaram o rei a ser operado várias vezes, a família real foi alvo de críticas ao se ver envolvida em escândalos.

O caso mais evidente é o da segunda filha do rei, a infanta Cristina, cujo marido é acusado de vários delitos em uma investigação por um suposto desvio de fundos públicos de uma entidade sem fins lucrativos presidida por ele.

O próprio rei não permaneceu alheio à polêmica e em abril de 2012 teve o gesto inédito de pedir desculpas aos espanhóis após sair do hospital onde tinha sido operado de uma fratura de quadril. Juan Carlos se acidentou quando caçava em Botsuana, viagem que não era de domínio público e que ocorria em meio à crise econômica.

Hoje, dois anos depois, o rei agradeceu aos espanhóis o apoio recebido para um reinado “iniciado em plena juventude e em um momento de grandes incerteza e dificuldade”, mas que originou um “longo período de paz, liberdade, estabilidade e progresso”. EFE

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