Representantes da Abiove criticam possível fusão entre Cosan e ALL
São Paulo, 9 fev (EFE).- Representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) criticaram nesta segunda-feira a possível fusão entre as empresas de logística Cosan e ALL, o que, segundo a entidade, colocaria nas mãos de uma única companhia o controle de 45% da capacidade de embarque do porto de Santos, um dos mais importantes para o setor.
“A fusão pode ter um impacto severo nas tarifas ferroviárias e refletir na renda recebida pelo produtor”, explicou o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral.
A Cosan passaria a controlar quatro concessões ferroviárias hoje sob a responsabilidade da ALL. Os 13 mil quilômetros de trilhos cortam os estados de Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, entre os maiores produtores de soja do país, e São Paulo.
Além disso, a nova empresa teria em suas mãos 45% da capacidade de exportação de granéis vegetais no porto de Santos por no mínimo 33 anos.
“A nova companhia, fruto da fusão, possuirá informações integradas sobre a movimentação de mercadorias, agendamento de navios, preços na origem e no destino, embarques dos usuários. Isso lhe permitirá direcionar as cargas de forma a maximizar o uso de seus próprios terminais portuários. Ou seja, não haverá isonomia no tratamento dos usuários, o que configura clara distorção das funções do bem público concessionado”, afirma a Abiove em nota.
Para Amaral, o novo grupo “não vai mais olhar o transporte ferroviário como a ALL faz hoje, maximizando a produção e a rentabilidade, mas sim vendo a ferrovia como parte de um negócio muito maior”.
A Abiove solicitou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que deve dar um parecer sobre a fusão na próxima quarta-feira, um conjunto de medidas para evitar o monopólio. Entre elas está, por exemplo, que a nova companhia seja impedida de participar de novas licitações e até mesmo a venda de terminais portuários da Cosan Logística para terceiros.
A proposta do Cade, de acordo com a Abiove, sugere até então uma fiscalização das ações das empresas por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), algo que a entidade crê que não será eficaz, dada a dinâmica e a rapidez das exportações por Santos.
“Não vai ser um monitoramento estatal que vai conseguir impedir que manipulações de carga sejam feitas no porto. Não haverá tempo para isso”, explica o presidente da Abiove, Carlos Lovatelli.
“O que nós queremos é que, se a fusão vier, que ela não crie uma empresa com um poder de mercado tão absurdo, que deixe todo mundo refém das decisões dela”, destacou Amaral. EFE
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