Restos mortais de Ricardo III são sepultados meio milênio após sua morte
Viviana García
Londres, 26 mar (EFE).- Os restos de Ricardo III, achados há três anos em um estacionamento, foram depositados nesta quinta-feira em uma sepultura na catedral de Leicester ao término de uma solene cerimônia na qual foi destacado o papel deste rei na história da Inglaterra.
O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, presidiu o serviço religioso do monarca (1452-1485), cuja controversa personalidade cativou a imaginação de escritores e motivou debates entre os historiadores sobre se foi um rei cruel e sem escrúpulos.
Os restos de Ricardo III – morto na batalha de Bosworth Field (1485) na Guerra das Duas Rosas (1455-1485), entre os partidários da Casa de Lancaster e da Casa de York – foram achados há três anos em um estacionamento de Leicester (centro da Inglaterra), no que foi um dos mais importantes achados arqueológicos do país.
Com a dignidade que exigia a ocasião, Welby e representantes de distintas religiões se uniram na catedral de Leicester em cerimônia na qual o ator Benedict Cumberbatch leu um poema escrito especialmente pela poetisa Carol Ann Duffy.
“Do estacionamento à catedral. Hoje viemos a dar a este rei e a estes restos mortais a dignidade e a honra que foram negados na sua morte”, disse o bispo de Leicester, Tim Stevens.
Por sua vez, Welby leu a frase “devolvemos os ossos do servidor Ricardo ao túmulo”, quando o caixão com os restos do monarca foi sepultado na catedral em uma cripta construída com pedra Swaledale, de North Yorkshire, ao norte da Inglaterra.
Em nome de Elizabeth II esteve a duquesa de Wessex, esposa do príncipe Edward, e também estiveram presentes representantes do catolicismo, a religião de Ricardo III.
Cumberbatch, que leu um poema de 14 linhas, foi especialmente convidado ao ser descendente do monarca e, curiosamente, interpretará seu parente distante em uma série que será transmitida em breve pela “BBC” sobre a Guerra das duas Rosas.
O ator é descendente do monarca através da mãe de Ricardo III, Cecily Neville, segundo afirmou hoje o especialista em genealogia da Universidade de Leicester Kevin Schurer.
Embora não estivesse presente, a rainha Elizabeth II enviou uma mensagem especial na qual reconheceu o lugar do soberano na história da Inglaterra e o entusiasmo que motivou o achado de seus restos.
“O novo enterro do Rei Ricardo III é um evento de grande importância nacional e internacional”, disse Elizabeth II, de 88 anos.
“Hoje reconhecemos um Rei que viveu em momentos turbulentos (…) A descoberta de seus restos em Leicester foi qualificada como um dos achados arqueológicos mais significativos da história deste país”, afirmou a chefe de Estado britânica.
Sua mensagem termina com a frase: “Ricardo III, que morreu aos 32 anos de idade em 1485 na batalha de Bosworth, agora descansará em paz na cidade de Leicester, no coração da Inglaterra”.
Este soberano, que ostentava o título de duque de Gloucester e foi o último rei da Casa de York, sempre foi um personagem histórico muito polêmico, fonte de inspiração de escritores, que o retrataram como um homem corcunda e ambicioso.
Depois que os restos foram achados em 2012 e que análise de DNA confirmou que correspondiam ao monarca, as Prefeituras de Leicester e de York disputaram uma batalha legal para receber seu túmulo, mas que culminou com a vitória da primeira, por ser o lugar onde o rei perdeu a vida há mais de 500 anos.
Ricardo III é um dos reis mais conhecidos devido a sua descrição de vilão na obra que leva seu nome, de William Shakespeare, que o descreveu como um monarca ambicioso, cruel e sem escrúpulos.
Uma frase célebre dessa obra é a de um monarca desesperado ao ver que a morte se aproxima quando é rodeado em Bosworth.
“Um cavalo, um cavalo! Meu reino por um cavalo!”, clamava o Ricardo III de Shakespeare.EFE
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