Resultado de autópsia para determinar causa da morte de Jango é inconclusivo

  • Por Agencia EFE
  • 01/12/2014 14h50
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Brasília, 1 dez (EFE).- A tese de que o ex-presidente João Goulart, morto na Argentina em 1976, foi vítima do chamado Plano Condor perdeu força nesta segunda-feira com o resultado de uma autópsia que, sem ser conclusiva, se inclina para “causas naturais” como motivo de sua morte.

O resultado da autópsia realizada com os restos de Goulart foi apresentado hoje pelos especialistas responsáveis do estudo, que explicaram que não foram encontrados traços de veneno ou alguma outra substância tóxica e que “os dados clínicos são compatíveis com os de uma morte natural”.

No entanto, o perito Jeferson Correa, chefe da equipe médica que realizou a autópsia, ressaltou que não se chegou a uma conclusão “determinante” por conta dos quase 38 anos passados desde a morte do ex-presidente, que governou o Brasil entre 1961 e 1964, quando foi derrubado por uma ditadura que se prolongou até 1985.

Tanto a exumação dos restos de Goulart, realizada há pouco mais de um ano, como a autópsia foram solicitadas à justiça pela família do ex-presidente, que há anos contesta a tese de que sua morte foi ocorreu por conta de um enfarto, como se disse em 1976.

A suspeita da família Goulart se intensificou há seis anos, quando um ex-agente de inteligência uruguaia, detido no Brasil, disse que Goulart foi envenenado no marco do Plano Condor, articulado pelas ditaduras do Cone Sul na década de 1970 para reforçar a perseguição dos ativistas de esquerda.

No entanto, a autópsia realizada por analistas brasileiros, em cooperação com peritos argentinos, cubanos, espanhóis, uruguaios e portugueses, não conseguiu confirmar essa tese.

“Nas amostras analisadas, não foi identificado nenhum remédio tóxico ou veneno”, embora pelo longo tempo transcorrido “também não se possa descartar o envenenamento”, declarou Correa.

O especialista explicou que, embora tenham sido realizadas “exaustivas” provas toxicológicas, só foi confirmada “a presença de substâncias poluentes presentes no cotidiano, como restos de xampu e algum remédio, mas tudo dentro do quadro terapêutico” de João Goulart, que sofria de problemas cardíacos.

Correa também indicou que “não foram encontrados indícios de morte violenta” e que os restos ósseos não apresentavam “fraturas e nem corpos estranhos”.

Desse modo, o “infarto agudo de miocárdio” assinalado de forma oficial em 1976 como motivo da morte “pode ser a verdadeira causa”, embora “também poderia ter sido outra patologia cardíaca ou cerebrovascular”, indicou Correa.

O chefe da equipe médica ressaltou que “a análise pericial é fria”, não leva em conta “as circunstâncias políticas” e que, no caso de Goulart, foi realizada em um “estrito marco científico” e com o material genético disponível.

Com a conclusão da autópsia, os restos de Goultart voltarão a ser depositados em um túmulo do cemitério da cidade de São Borja, fronteiriça com a Argentina, desde onde foram transferidos no ano passado a Brasília para os exames e um funeral de Estado que, no momento de sua morte, foi negado pela ditadura.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, Ideli Salvatti, que participou da apresentação dos resultados da autópsia, explicou que essa análise é apenas “parte de um processo que foi instaurado para restabelecer a verdade histórica” sobre o ocorrido durante a ditadura.

Ideli indicou que, como a morte de Goulart ocorreu na Argentina, nesse país também existe uma investigação em curso e que o tribunal responsável poderá ter acesso aos resultados da autópsia.

A ministra destacou que uma investigação essa natureza “só poderia ser realizada em democracia” e destacou a “ferrenha vontade política” da presidente Dilma Rousseff para tentar esclarecer totalmente a morte de João Goulart. EFE

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