Resultado do julgamento do massacre do Carandiru representa mudança nos rumos do país, diz promotor

  • Por Jovem Pan
  • 20/03/2014 08h47
Luiz Novaes/Folhapress Julgamento do massacre no Carandiru

Mais dez policiais militares foram condenados pela morte de oito presos durante o Massacre do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo. Nove réus receberam pena de 96 anos de reclusão e um vai arcar com 104 anos por já ter antecedentes criminais.

 Todos foram absolvidos no assassinato de duas pessoas e três tentativas de homicídio no último andar do Pavilhão 9 da extinta Casa de Detenção. O promotor de Justiça, Márcio Friggi, considerou o resultado satisfatório, principalmente, porque os condenados na ativa perderão seus cargos.

“Nós avaliamos de forma absolutamente positiva, o resultado é satisfatório em que pesa a questão das tentativas. As penas aplicadas são adequadas e, em especial, é preciso consignar o efeito da condenação, que é a perda dos cargos para quem ainda está na ativa. (…) Então, o conjunto da obra, o resultado final, nós avaliamos de forma absolutamente satisfatória e acreditamos que a justiça foi, apesar de tardia, efetivamente feita”, disse.

A quarta etapa do julgamento que analisou a conduta dos policiais do Gate durou três dias, no Fórum da Barra Funda. Em entrevista a Andre Aguiar, o promotor de Justiça, Eduardo Olavo Neves Canto Neto, destacou que a decisão revela uma mudança nos rumos do país.

“Em outras épocas, os policiais, como queria o advogado, seriam absolvidos e receberiam medalha, receberiam prêmios, reconhecimento por esse tipo de conduta, de violência policial, de truculência, de violência desnecessária, de excesso criminoso. E hoje, nós temos um pensamento diferente e a sociedade tem demonstrado isso, tem acolhido a tese do Ministério Público”, contou o promotor.

A defesa já manifestou em plenário intenção de recorrer da sentença e, assim como nas outras etapas, os réus vão aguardar em liberdade. O advogado Celso Vendramini entende que seu trabalho foi prejudicado, principalmente, com a dispensa de algumas testemunhas.

“Eu tenho plena certeza que eu vou vir a novo julgamento com esses policiais porque eu acho (…) que quem perdeu com essa condenação foi a população da cidade de São Paulo. Eu fiz tudo que eu pude. Nunca fui tão cerceado como advogado em um tribunal de juri como eu fui nesse. Eu nunca fui tão aviltado nas minhas prerrogativas e no meu direito de defender pessoas. Foi o primeiro julgamento da minha vida em 23 anos que eu fui cerceado na defesa”, desabafou o advogado.

O episódio, conhecido como Massacre do Carandiru, aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, e resultou na morte de 111 presos.

A terceira etapa do julgamento foi remarcada para o próximo dia 31, depois que o advogado dos réus abandonou o plenário.

 

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