Revolução de 1932: Há 83 anos, SP se rebelava contra a ditadura de Vargas
Há 83 anos, São Paulo se rebelou contra a ditadura de Getúlio Vargas e pediu uma nova Constituição para o país. A Revolução de 1932 iniciada em 9 de julho é um dos episódios mais importantes da história do Brasil.
Quase 50 mil paulistas se envolveram na luta armada contra as tropas federais. Apesar da derrota militar, a conquista de uma nova Constituição e as eleições de 1934 foram as grandes vitórias daquele movimento.
*Ouça a reportagem de Anderson Costa, com sonorização de Reginaldo Lopes acima
Com a chegada de Vargas ao poder em 1930, a Constituição de 1891 é anulada e o Governo Provisório nomeia interventores para os estados, com exceção de Minas Gerais.
Os paulistas entendem que Getúlio está demorando para convocar novas eleições e uma Assembleia Constituinte.
Quando o ministro Oswaldo Aranha vem a São Paulo para a posse do secretariado do novo interventor paulista Pedro de Toledo, o tumulto começa.
Na madrugada de 23 para 24 de maio, a população tenta expulsar partidários de Vargas de um escritório na Rua Barão de Itapetininga, no Centro.
O coronel reformado da PM e pesquisador de 32, Luís Arruda, explica como foi o confronto.
“Quando os primeiros chegam à sacada do prédio, a janela se abre e há uma metralhadora montada que varre a Praça da república. Grito, confusão e correria. Neste episódio, quatro são mortos. Que não são estudantes”, disse.
Com o sangue derramado, os ânimos dos paulistas se acirram e é criada a sociedade secreta chamada MMDC.
O historiador Marco Antônio Villa destaca que a revolução era uma questão de tempo.
“A partir dali a radicalidade aumenta até a eclosão de 9 de julho quando começa uma guerra civil. Um movimento que não seria só de São Paulo, teria a participação do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, Mato Grosso, mas que acabou se restringindo a SP. E aí começa a guerra com aqueles que queria reconstitucionalizar o país e aqueles que queriam manter o governo provisório”, explicou.
Os combates se deram principalmente na fronteira entre São Paulo e Minas Gerais.
Presidente da Sociedade dos Veteranos de 32, coronel Mário Ventura, diz que os paulistas foram surpreendidos pelos soldados mineiros.
“A desproporção das armas, a aviação, tudo isso… Eu nem sei como eles lutaram 87 dias. Na verdade, São paulo ia participar da revolução junto com MG e RS. Quando esperava MG, veio atirando em cima dos paulistas”, comentou.
Os especialistas afirmam que o movimento de 32 nunca teve um viés separatista.
O professor Marco Antônio Villa ressalta que este discurso foi usado pelo governo Vargas, a fim de jogar o resto do país contra São Paulo. “Quem usou muito a questão da propaganda separatista foi o governo provisório e ditatorial para dizer que a rebelião não era para convocar novas eleições, mas para separar SP do Brasil”.
Isolado, São Paulo precisa recorrer a todos os segmentos da população para continuar combatendo.
O coronel Arruda explica que os esportistas também participam da Revolução e lembra o papel dos clubes que existiam na época. “Os clubes esportivos, doaram seus troféus e medalhas para serem leiloadas em prol dos órfãos, das viúvas da mobilização em SP em 32”.
Os combates duram até o dia 02 de outubro, quando São Paulo se rende as tropas federais. Apesar da derrota, uma Assembleia Constituinte é convocada e Getúlio Vargas é eleito presidente de forma indireta.
Para o professor Marco Antônio Villa, São Paulo teve o que comemorar. “Se a derrota militar, você tem uma vitória política. A vitória política foi a confirmação das eleições para 1933, para a Assembleia Constituinte e no ano posterior, 1934, a Constituição acabou sendo promulgada”.
Grande parte dos restos mortais dos paulistas mortos está no Mausoléu dos Combatentes, no Parque do Ibirapuera.
Hoje, a memória da Revolução é cultuada pelos Veteranos de 32 e também por entidades como o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
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