Rickshaw, o rei das ruas de Daca
Igor G. Barbero.
Daca, 16 mai (EFE).- Colorido, barato e acessível, o rickshaw – veículo típico da Ásia – é o dono das ruas de Daca, em parte culpadp por seus terríveis engarrafamentos, e sustento de centenas de milhares de pessoas de origem humilde que buscam um difícil El Dorado na capital de Bangladesh.
Sua capota conversível, pintada à mão com desenhos de animais, paisagens ou atores de cinema, e decorada com ornamentos de metal e tiras refletoras transformou este rústico triciclo em ícone para passageiros ao completar um século de história no país asiático.
O rickshaw é onipresente: tem monumento em Daca, as réplicas em miniatura são estrelas nas lojas de souvenires; várias empresas comercializam a arte rickshera pela internet, e as corridas para arrecadar fundos são frequentes.
Somados, os veículos motorizados da cada vez mais populosa Daca, de 16 milhões de habitantes, não alcançam em número o de rickshaws, estimado por fontes do setor em entre 800 mil e um milhão.
Mas ninguém sabe ao certo, pois a administração municipal deixou de emitir licenças nos anos 80. O que se sabe é que na capital de Bangladesh apenas 80 mil rickshaws estão autorizados a circular.
“Não concedemos novas permissões porque não estamos interessados em que haja mais veículos na cidade, há muitos. Só renovamos as licenças existentes”, explicou à Efe um funcionário da corporação Daca Norte, Mumtazu din Ahmed.
Ahmed assegurou que às vezes a polícia realiza “operações contra frotas ilegais de rickshaws”, embora admita que “Daca é uma cidade muito povoada onde as pessoas precisam destes veículos para se deslocar por suas vielas muito estreitas”.
“Eu o utilizo porque é fácil para viajar, não é muito caro e é divertido”, argumentou o jovem Jehan Khan, enquanto se ajeita com outras duas pessoas no assento do rickshaw.
A população recorre a esse veículo para se movimentar e os motoristas para sobreviver e sustentar suas famílias: cerca de três milhões de pessoas dependem diretamente da pouca receita destes ciclistas.
“Trabalho todos os dias sem descanso, cerca de 12 horas por dia. Pedalo há 40 anos e é a única coisa que posso fazer para ganhar dinheiro. Mal dá para encher o estômago”, relatou Mohammed Touraq, um motorista de rickshaw idoso.
“Não é simples, cansa muito, recebo golpes (de outros veículos) todo dia e algumas vezes por semana tenho que fazer algum conserto”, acrescentou.
Com suas corridas, Touraq consegue juntar entre US$ 3 e US$ 4 por dia, mas deve entregar cerca de um terço desse valor para o proprietário do rickshaw.
“A maioria dos motoristas são migrantes. A pobreza os empurra fora das zonas rurais. Embora seja pouco, na cidade ganham mais dinheiro. Muita gente tem contatos familiares ou de amigos para poder dirigir um rickshaw”, explicou à Efe o chefe do Departamento de Sociologia da Universidade de Daca, Monirul Islam.
Segundo Islam, a não concessão de novas licenças faz com que entre 20 e 30 veículos circulem com a mesma placa, em frotas controladas por proprietários que subornam as autoridades para manter o negócio.
Os rickshaws dominam a paisagem urbana e, apesar de sua circulação ser proibida pelas avenidas principais, acabaram se impondo como o meio mais recorrente para se deslocar e o mais seguro durante os frequentes bloqueios de tráfego que costumam acompanhar as crises políticas de Bangladesh.
Conta a história que o primeiro rickshaw circulou em Bangladesh na cidade portuária de Chittagong, no sudeste, no início do século XX e foi importado de Mianmar.
Hoje a maioria é fabricada localmente, em pequenas oficinas com um processo de montagem e decoração que dura cerca de cinco dias. O veículo custa cerca de 21 mil takas (US$ 270). Também é vez mais comum a versão elétrica do veículo.
O triciclo pode ter um pequeno motor e uma bateria recarregável acoplado, o que faz com que o preço dobre, mas economiza dos “reis das ruas de Bangladesh” um esforço físico impagável. EFE
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