Rota migratória dos Bálcãs: países sobrecarregados, imigrantes desesperados

  • Por Agencia EFE
  • 28/06/2015 06h44

Vladislav Punchev e Marcelo Nagy.

Sofía/Budapeste, 28 jun (EFE).- Eles não chegam em navio pelo Mar Mediterrâneo, mas cruzando a pé os Bálcãs. Essa é a outra rota que milhares de refugiados usam para chegar à Europa rica fugindo da guerra em seus países e que transborda a capacidade de acolhimento das nações da fronteira sudeste da União Europeia.

Se em 2010 a Sérvia recebeu apenas 500 pedidos de asilo, neste ano já conta com 31.500 solicitações, a maioria de sírios e afegãos que fogem da violência em seus países. Na Hungria, o total de pedidos nos primeiro seis meses do ano já é de 60 mil, 40% a mais do que em todo o ano de 2014.

Alguns, desesperados, se submetem a traficantes de pessoas para conseguir chegar à Europa com a esperança de uma vida melhor.

“Os traficantes cobram de 6 mil a 7 mil euros (R$ 20.973 a R$ 24.469) por família para o transporte até algum ponto da fronteira de 259 quilômetros que a Turquia tem com a Bulgária. Às vezes, eles são acompanhados por 100 metros dentro de solo búlgaro, mas muitas vezes são levados somente até a cerca onde devem pular”, relatou o jornalista sírio Nidal Hlaif, que vive na Bulgária há 25 anos.

Um refugiado sírio, de 23 anos, que não quis se identificar, conta que decidiu cruzar a Bulgária no final de 2013 porque em Istambul, na Turquia, seu salário em uma fábrica de móveis mal dava para comer. Como não tinha dinheiro para pagar os traficantes, decidiu fazer a viagem por conta própria.

“Minha família e eu levávamos um pouco de comida, uma mapa, um GPS e lanternas. Andamos durante três dias sem dormir. Descobrimos que estávamos na Bulgária quando fomos encontrados por uma patrulha”, contou.

Depois de várias mudanças, acabaram no abrigo em um antigo quartel na cidade de Harmanli, no sul da Bulgária.

“Era horrível. Estávamos em um prédio arruinado, dormimos no chão sujo, passávamos frio, não tinha água quente nem comida suficiente”, lembrou, admitindo que as condições melhoraram nos meses seguintes, depois das críticas da ONU.

O jovem, que recebe 35 euros (R$ 122) por mês, pensa em viajar à Alemanha com a família.

Já no centro de Belgrado (Sérvia), grupos de imigrantes dormem ao relento nos parques. A maioria é da Síria, do Afeganistão, do Iraque, da Somália e do Paquistão.

“Todos nós temos 20 anos. Saímos do Afeganistão há alguns meses”, disse um jovem perante uma dezena de companheiros de travessia. Com as mãos, ele faz o movimento de uma arma disparando, e esclarece: “por causa da guerra”.

No grupo, todos querem ir ao norte. Primeiro à Hungria, depois à Alemanha. Na semana passada, a Hungria anunciou que construirá uma cerca para conter a entrada de imigrantes ilegais vindo da Sérvia.

“Não há muro que detenha os imigrantes. Essa medida só aumentará os problemas de saúde e humanitários, e tornará mais difícil sair da Sérvia, a última passagem e o caminho mais rápido entre a Grécia e a Hungria”, declarou à Efe Rados Djurovic, diretor da ONG sérvia “APC/CZA” de ajuda a refugiados.

O governo húngaro afirma que está sobrecarregado depois de receber 60 mil solicitações de asilo apenas em 2015. Há três anos elas não chegavam a duas mil.

As autoridades húngaras adotaram várias medidas polêmicas, como enviar a todas as famílias do país um questionário pedindo a opinião sobre a imigração ilegal, com perguntas que vinculavam esse fenômeno ao terrorismo.

Além disso, colocaram cartazes, escritos em húngaro, advertindo aos imigrantes que a cultura e as leis do país devem ser respeitadas, e que não podem assumir o trabalho dos cidadãos locais.

Um líbio, que pede para não ser identificado porque seu processo de asilo ainda está em análise, vive no campo de refugiados de Debrecen, no leste da Hungria, e conta que seu primeiro pedido foi negado.

“Eles me disseram que a Líbia está em paz e que posso voltar. Eu expliquei que lá estão os jihadistas da Ansar al-Sharia”, explicou à Efe.

Agora, ele espera ter mais sorte. “Quero permissão de um país para seguir rumo à Europa Ocidental. No acampamento tem mais gente. Muitos dormindo ao relento e isto vai ficar pior, já que diariamente chegam mais e mais”, afirmou.

Para András Kováts, diretor da Organização Menedék, a situação atual representa uma “crise humana”. Para ele, a campanha do governo com os cartazes foi “irresponsável e desnecessária”.

A representante para a Europa Central do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Montserrat Feixas Vihé, por sua vez, lembrou à Efe que a atual onda de pedidos de refúgio é um problema mundial e que “a Europa recebe apenas 10% de todos os deslocados”. EFE

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