Roubos de ouro e cobre disparam com a crise em Portugal
Antonio Torres del Cerro.
Lisboa, 4 mar (EFE).- O aumento de assaltos a joalherias e da apropriação ilegal de cobre são os delitos contra a propriedade e o patrimônio que mais cresceram em Portugal nos últimos anos, em paralelo ao agravamento da crise no país.
Com 25% dos portugueses com risco de pobreza (2,7 milhões de habitantes) e 15,6% desempregados, a longa recessão portuguesa modelou as tendências delitivas do país, que em maio de 2011 assinou um resgate financeiro internacional em troca de duras medidas dirigidas a sanear suas contas.
A notável diminuição da maioria dos delitos contra o patrimônio e a propriedade – como roubos de veículos, assaltos a residências e furtos em lojas -, ocorre em paralelo à alta de roubos em joalherias e à apropriação ilegal de cobre e outros metais não preciosos, com algumas exceções.
A razão é a alta e imediata rentabilidade que é obtida com ambos metais e a tradição de venda e compra de ouro em Portugal, explicou à Agência Efe Rui Pereira, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) de Portugal.
Desde 2010, quando começaram a ser recolhidos dados sobre os delitos em joalherias, os assaltos nestes estabelecimentos subiram de 120 para 164 de 2012, último dado publicado.
O apetite dos grupos organizados cresceu, além disso, à medida que o mercado português começou a receber mais ouro.
“Há mais ouro no mercado pela necessidade dos portugueses de vendê-lo pelo impacto da crise”, declarou à Agência Efe Carla Salsinha, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços de Lisboa.
Além de seu valor intrínseco – a onça do ouro (28 gramas) à vista vale cerca de US$ 1,2 mil-, este metal precioso é mais simples de comercializar, pois as peças subtraídas originalmente podem facilmente ser fundidas para revenda e passar assim a ser irreconhecíveis.
As joalherias, atualmente cerca de 1.500 em todo o país, reforçaram a segurança tanto com sistemas de vídeo-vigilância como com seguranças na porta, relatou Salsinha, que constatou a preocupação do setor.
O endividamento das famílias, que se multiplicou desde 2011, é uma das principais causas do aumento de metais preciosos no mercado.
“Recolhemos relatos de famílias que venderam anéis ou pingentes de ouro para atenuar sua situação. E o pior é que, além disso, os venderam a um preço muito mais baixo”, disse à Agência Efe Natalia Nunes, coordenadora do gabinete de apoio ao endividamento da Associação em Defesa de Consumidores de Portugal (DECO).
Tanto os roubos de ouro como de cobre acionaram os alarmes das autoridades lusas.
Em seu relatório de 2012, o Ministério do Interior português, que coordena todos os corpos policiais do país, lembrou os programas de prevenção iniciados para tratar este tipo de delitos, praticamente os únicos que crescem.
Os furtos do cobre, conhecido como o “ouro vermelho”, mas também de outros metais como o ferro, o bronze e o alumínio, preocupam o ministro por seu “impacto negativo” derivado do “sentimento de insegurança” da população, pois estes delitos se dirigem contra a propriedade privada ou o patrimônio histórico, social e cultural.
As linhas de telecomunicações e a eletricidade são dois dos serviços básicos mais golpeados por esta nova tendência delitiva.
O presidente do OSCOT constatou que o roubo destes metais não preciosos, incluídos recentemente nas estatísticas delitivas, registrou uma elevada incidência em 2012, com 15 mil casos.
Rui Pereira esclareceu que a crise econômica e social não tem relação direta com o aumento dos delitos contra o patrimônio ou a propriedade, pois estes tipos de infrações sobem especialmente em momentos de bonança no consumo.
“Cresceram, no entanto, os delitos contra as pessoas, como homicídios e violência doméstica, fruto da erosão social”, sustentou.
Para Salsinha, responsável da União de Associações do Comércio e Serviços de Lisboa, há outro tipo de delito que aumentou : os roubos em postos de gasolina.
Estes estabelecimentos são alvo dos grupos criminosos pela relativa facilidade que têm para chegar aos seus caixas automáticos, com sistemas de segurança menos ferrenhos. EFE
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