Rússia baixa o preço da vodca enquanto aumenta o dos produtos básicos
Arturo Escarda.
Moscou, 3 fev (EFE).- A vodca ficou um pouco mais barata na Rússia, depois que o governo diminuiu o preço mínimo regulado da bebida em meio a uma grave crise econômica e uma galopante inflação que encareceram praticamente todos os produtos de primeira necessidade.
“Com esta baixa, querem tranquilizar o povo. Tentam diminuir o descontentamento do povo pela alta generalizada de outros produtos. Porque este país, na realidade, é um país bebedor”, opinou Andrei, de pouco mais de 30 anos.
No mesmo dia em que o transporte público teve um aumento em média de 7% em Moscou, o preço mínimo de uma garrafa de meio litro de vodca passou de 220 para 185 rublos, o equivalente a R$ 7,32 no câmbio atual.
A forte desvalorização do rublo, que perdeu mais de 50% de seu valor nos últimos meses, disparou os preços inclusive para os produtos básicos não importados e deixou à beira do desespero as camadas de população mais desprotegidas.
“Há outros produtos que deveriam ter preços rebaixados, como os remédios e os alimentos”, lamentou Irina Viktorovna, uma aposentada que vive em Moscou, uma das cidades mais caras do mundo, com uma aposentadoria de pouco mais de 12 mil rublos (R$ 475).
A medida, que entrou em vigor no último domingo, foi aprovada depois de o presidente Vladimir Putin se pronunciar contra o aumento do preço da bebida alcoólica preferida dos russos.
É a primeira vez desde a adoção de um preço mínimo para a vodca que o governo reduz seu preço, e fez isso apesar das duas últimas altas terem sido aplicadas há menos de um ano, em março e agosto de 2014.
As autoridades asseguram que querem evitar que os consumidores recorram aos destilados caseiros, frequentemente muito perigosos para a saúde, diante da drástica diminuição de seu poder aquisitivo, minguada por uma inflação que beirou 10% em 2014.
“No interior do país, o povo bebe muito. Nas zonas rurais, o povo produz álcool caseiro de má qualidade para não gastar seus poucos recursos na vodca de fábrica”, reconheceu Andrei, que da mesma forma que a maioria dos homens russos, apoia a diminuição.
Irina, no entanto, acredita que a medida não é o melhor nas circunstâncias atuais, com a economia do país afetada pela baixa do preço do petróleo e as sanções do Ocidente contra Moscou por seu papel na crise da Ucrânia.
“Agora que os ânimos no país são tão depressivos, parece que nos dizem que é preciso afogar as mágoas”, advertiu esta aposentada, que lembrou várias campanhas contra o consumo desmedido do álcool lançadas em tempos soviéticos.
Muita água caiu desde a primeira “lei seca” da história da Rússia, imposta em agosto de 1914 pelo czar Nicolau II com o objetivo de dedicar a produção de álcool à cura dos feridos na Primeira Guerra Mundial.
Naquela época, a média de consumo de álcool no país era de apenas 2,8 litros por pessoa por ano.
Um século depois, a Rússia é líder mundial em consumo de bebidas alcoólicas por habitante, com 18 litros anuais, segundo dados oficiais que refletem, além disso, que mais de dois milhões de russos sofrem de alcoolismo.
Um recente estudo internacional publicado pela revista médica britânica “The Lancet” adverte que um quarto da população masculina da Rússia morre antes de completar 55 anos, um dado que os cientistas atribuíram em grande medida ao excessivo consumo do álcool.
Nem esta e outras advertências tiram o ânimo de Nicolai, que não oculta seu contentamento pela “oportuna e sábia” medida do governo russo.
“Sempre é bom que baixem os preços”, ressaltou, na saída de um supermercado, este moscovita de 55 anos. EFE
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