Rússia quer redescobrir América Latina estimulada por sanções ocidentais
Waldheim García Montoya.
Moscou, 5 dez (EFE).- Estimulada pelas sanções ocidentais, a Rússia quer redescobrir a América Latina com um aumento do comércio, a transferência de tecnologia e a chegada de novos estudantes às universidades russas.
“A América Latina não é só México, Brasil e Argentina. Queremos chegar a outros países com equipamentos de alto valor tecnológico, como Equador e Bolívia”, afirmou nesta sexta-feira Denis Manturov, ministro da Indústria e Comércio da Rússia.
Segundo Manturov, “é preciso aproveitar o matriarcado” no poder no Brasil, na Argentina e no Chile.
“É para sentir orgulho. As presidentes sabem como Vladimir Putin é carismático”, disse o ministro russo em relação a Dilma Rousseff, Cristina Kirchner (Argentina), Michele Bachellet (Chile).
As sanções ocidentais estimularam o interesse russo na América Latina e em grupos como o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), enquanto as potências ocidentais “terão dificuldades para retornar ao mercado russo”, comentou.
“Em parte, estou agradecido ao embargo ocidental, já que nos últimos quatro anos os engenheiros russos desenvolveram 130 tipos de equipamentos de alta tecnologia, o que significa que teremos que desenvolver uma indústria própria para exportar”, explicou.
Manturov disse que o orçamento não foi prejudicado pela queda dos preços do petróleo, já que “o custo está em rublos” e a Rússia dispõe de recursos naturais e minerais.
As relações com os países latino-americanos são baseadas em comissões intergovernamentais e não em habituais tratados de livre-comércio, pois a Rússia criou uma União Aduaneira e, a partir de 1º de janeiro de 2015, entrará em vigor uma União Eurasiática com o Cazaquistão, Belarus, Armênia e Quirguistão.
“Fazemos isso através de feiras e exposições, com a criação de empresas conjuntas. Também com empresas estatais e privadas, já que sabemos que as pequenas e médias empresas são o motor do comércio exterior em qualquer país”, disse.
O ministro lembrou que, recentemente, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) em Pequim, comunicou à subsecretária de Comércio e Turismo do Chile, Katia Trusich, que as autoridades da saúde russas já tinham aprovado a importação de peixes chilenos.
Entre outros projetos, Manturov enfatizou a instalação de uma empresa de montagem de caminhões Kamaz na Argentina e a cooperação para abrir uma linha de montagem de ônibus da empresa brasileira Marcopolo.
A Rússia está especialmente interessada em fazer um intercâmbio de tecnologia com o Brasil, onde está sendo certificado um dos modelos de helicóptero russo, além de prosseguir a cooperação com a Embraer, que importa titânio russo.
Segundo Manturov, o Peru é uma terra de oportunidades, principalmente no setor petroleiro e agrícola, e as relações se intensificaram com a recente visita do presidente Ollanta Humala.
No caso da Colômbia, a Rússia forneceu helicópteros para combater o tráfico de drogas e para os trabalhos de emergência e salvamento em lugares inacessíveis do país. Recentemente, o México comprou 12 aviões russos.
Também não foram esquecidas as relações “de grande escala com um parceiro tradicional como Cuba” ou a estreita cooperação com a Venezuela em todos os âmbitos, do energético ao militar, desde a chegada do falecido Hugo Chávez ao poder, em 2000.
Na Nicarágua, a Rússia participa dos planos de construção de um canal interoceânico alternativo para os navios que não podem atravessar o Canal do Panamá.
A Rússia tem a intenção de promover projetos no âmbito da educação por meio do “aumento das cotas universitárias” para os estudantes oriundos da América Latina.
“(O objetivo é fazer) os latino-americanos estudarem nas melhores universidades russas. Não somos robôs, e as relações humanas dependem das nossas relações comerciais”, afirmou o ministro. EFE
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