Santos espera concluir negociações com Farc e abrir com ELN ainda em 2015
Esther Rebollo.
Bogotá, 26 fev (EFE).- O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, expressou em entrevista exclusiva à Agência Efe sua confiança em que, ao longo deste ano, se abram negociações formais com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e se feche o acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para que no final de seu governo, em 2018, reine a paz no país.
Às vésperas de sua visita de Estado à Espanha, que começa no domingo a convite do rei Felipe VI, Santos afirmou que as eleições locais de outubro poderiam servir para referendar os acordos com as Farc, desde que a negociação avance em Cuba no ritmo atual.
E, para cumprir esse prazo, já estaria em andamento um diálogo formal com o ELN, a segunda maior guerrilha do país.
“Neste ano vamos começar um diálogo com o ELN, estou quase convencido que será assim”, declarou o presidente, ao esclarecer que se encontram em “fase secreta”, “na etapa pré-Oslo”.
Santos se referiu assim ao momento prévio de tornar públicas as negociações com as Farc, em agosto de 2012, que se formalizaram na capital norueguesa dois meses depois.
“Que foi difícil eu não nego”, disse o presidente colombiano sobre a aproximação com o ELN, guerrilha comunista que, ressaltou, “tem uma estrutura diferente, é mais de tomada de decisões coletivas, têm que consultar-se entre eles, têm outra forma de pensar sobre muitos assuntos”.
“Mas, se têm a vontade que dizem ter publicamente, vamos chegar a acordos”, afirmou o líder, acrescentando que esse diálogo avançaria rápido “porque muitos elementos têm que ser comuns” em relação ao que já foi negociado com as Farc.
Sobre o diálogo em Havana com as Farc, Santos admitiu que está em um momento decisivo e respondeu com um “sim” ao ser perguntado se os acordos poderiam ser submetidos a referendos em outubro.
“Seria ideal poder utilizar toda a infraestrutura das eleições para cumprir com esse requisito, mas depende de quanto tenhamos avançado”, comentou.
O ponto mais importante agora está na discussão sobre como se tratará os autores de delitos, e, nesse sentido, Santos manifestou que “a fórmula mágica é o máximo de justiça que permita a paz”; o que significa “direito à verdade, à reparação, à justiça e à não repetição”.
“Não é possível o perdão, o esquecimento, essas anistias, esses indultos que se alcançaram no passado, hoje isso não é possível; é preciso aplicar algum tipo de justiça e esse é o miolo do problema e o mais difícil”, revelou, para insistir que “não pode haver paz com impunidade”.
Segundo Santos, as Farc “não querem ser a primeira guerrilha na história do mundo que entrega as armas para ir à prisão”, mas foram advertidos que “devem entender que o mundo de hoje exige justiça”.
No meio dessa polêmica, Santos defendeu a proposta do ex-presidente César Gaviria de aplicar a justiça transicional não só a guerrilheiros, mas a todos os responsáveis do conflito.
“Se queremos colocar fim a este conflito de forma definitiva temos que fechar tudo, não podemos deixar portas abertas”, afirmou, ao mencionar de forma explícita “os chamados não combatentes: empresários que financiaram paramilitares ou empresas que ajudaram a financiar o conflito”.
Segundo sua opinião, essa proposta é “conveniente e prática”, consciente que será preciso enfrentar personagens com muito poder. “Isso é parte do custo que devemos assumir para conseguir a paz”, advertiu.
O presidente colombiano também reconheceu que as Farc “cumpriram o cessar-fogo (implementado antes do Natal)”, mas “infelizmente continuam extorquindo, traficando, seguem com a mineração ilegal”.
Além disso, antecipou que “é possível” começar com a retirada de minas antipessoais antes mesmo de assinar um acordo definitivo em Havana.
O presidente colombiano lembrou que acolherá em 2016 a Cúpula Ibero-Americana e espera que esta seja a primeira desta natureza que o país receba sem um conflito armado.
“Eu desejo que neste ano possamos fechar os acordos e implementá-los o mais breve possível”, completou.
Santos imagina a Colômbia em 2018, quando deixará a presidência, como “um país mais justo, com menos desigualdades, um país ideal para viver” e com “guerrilheiros fazendo política sem armas”.
E a si mesmo como um ex-presidente respeitoso. “O que posso garantir é que não vou incomodar meu sucessor”, concluiu Santos em alusão ao senador e ex-presidente que lhe antecedeu no cargo, Álvaro Uribe, hoje o maior opositor ao processo de paz. EFE
erm/rsd
(foto) (vídeo) (áudio)
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.