Sarkozy contra-ataca e se diz vítima de instrumentalização da Justiça

  • Por Agencia EFE
  • 02/07/2014 17h54
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Paris, 2 jul (EFE).- O ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse nesta quarta-feira estar “profundamente surpreso” com seu indiciamento por corrupção ativa, tráfico de influência e encobrimento da violação do sigilo profissional, e afirmou que estas acusações “grotescas” são uma instrumentalização da Justiça.

De terno, gravata preta e semblante sério, o político conservador abandonou o silêncio e ressaltou que o tratamento que recebe tem a intenção de humilhá-lo, assustá-lo e difamá-lo.

Em discurso divulgado simultaneamente pela emissora “BFM TV” e pela rádio “Europe 1”, o presidente da França entre 2007 e 2012 deixou claro que “jamais” cometeu um ato contrário ao Estado de Direito e aos princípios republicanos, e que, portanto, não tem nada a ser criticado.

“Digo a quem nos escuta e nos vê que jamais traí sua confiança”, afirmou Sarkozy, que ontem se tornou o primeiro ex-presidente intimado a depor na qualidade de detido.

A Justiça quer determinar neste caso se ele criou junto com seu advogado, também acusado do mesmo crime, uma rede que os mantinha informado sobre dados sigilosos da evolução dos processos judiciais em que é acusado.

A decisão de grampeá-lo, quando os magistrados suspeitaram do vazamento, aconteceu dentro do processo que investiga se Sarkozy recebeu financiamento de campanha do então ditador líbio Muammar Kadafi.

“É normal que se tenham escutado minhas conversas mais íntimas desde setembro de 2013, que as conversas com meu advogado sejam ouvidas e divulgadas pela imprensa, em uma clara violação do segredo de instrução, e que seja colocado em detenção preventiva durante 15 horas?”, questionou.

Para Sarkozy, tentam dar a ele “uma imagem que não é verdadeira”, e a situação “é suficientemente grave para que venha mostrar o rosto e dizer aos franceses que é vítima de uma instrumentalização política de uma parte da Justiça”.

“Estou profundamente surpreso pelo que aconteceu. Não peço nenhum privilégio e se cometi erros assumirei todas as consequências. Não sou um homem que foge das responsabilidades”, disse no discurso, que durou cerca de 20 minutos.

Sarkozy lembrou que se dedica à política há 35 anos e que “jamais” alguém foi tão examinado como ele ou como as contas de sua campanha eleitoral.

“Digo aos que me apoiaram que nunca houve nenhum sistema de caixa 2. Que é uma loucura acreditar que 17 milhões de euros da minha campanha teriam sido ocultados. Ninguém pode imaginar que os investigadores do Conselho Constitucional ou da Comissão de Contas teriam passado batido por isso”, ressaltou.

Sarkozy diz acreditar que o direito dele à justiça, a um juiz e a processo imparcial estão sendo violados, e reiterou que, embora não queira estar acima da lei, também não aceita estar abaixo.

Suas críticas à parte da magistratura receberam uma resposta quase imediata do sindicato judicial, que diz que Sarkozy pretende desacreditar “aqueles cuja profissão é buscar a manifestação da verdade”, trabalho em que não influi estar sindicalizado.

A opinião do ex-dirigente é partilhada pelos integrantes da conservadora União por um Movimento Popular (UMP), que tacharam a acusação de complô, por ser formalizada exatamente no momento em que o retorno de Sarkozy à política está em discussão.

Já ele mesmo preferiu deixar a porta aberta, e garantiu não ter tomado ainda nenhuma decisão.

“Após um tempo de reflexão, decidirei o que devo fazer no final do mês de agosto ou início de setembro. Amo meu país com paixão e não sou alguém que se desalente diante de manipulações políticas”, concluiu. EFE

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