Saudita assume posto de “Sherlock Holmes” ao rastrear crimes no deserto
Suliman al-Assad.
Riad, 18 jul (EFE).- Abu Falah Yabar possui talento e o estranho hábito de rastrear pegadas no deserto, fato que fez com que a polícia saudita o contratasse como “rastreador” para resolver misteriosos crimes ou para liderar buscas de fugitivos.
Yabar, de 48 anos, vive na região de Al Falay, a cerca de 300 quilômetros ao sul de Riad, e a partir de agora ganhará uma nova identidade: a de “Sherlock Holmes” saudita, já que passará a trabalhar integralmente para as autoridades locais.
Em uma entrevista à Agência Efe, Yabar explicou que descobriu o que era capaz de fazer ainda adolescente e como parte de uma brincadeira. “Quando era menor, tive uma espécie de intuição de que poderia seguir as marcas deixadas pelos seres humanos e animais”, lembrou.
As lendas sobre a suposta capacidade dos antigos árabes para resolver problemas, capturar criminosos ou caçar animais através das marcas deixadas na natureza também costumam ser famosas na Arábia Saudita.
A tribo de Al Murra, por exemplo, é reconhecida por seus “rastreadores”, embora Yabar – que não pertence a esse clã – tenha negado ter essa habilidade como parte da herança de seus antecessores.
“Ninguém da minha família tinha essa aptidão e minha relação com as pessoas da tribo de Al Murra me ajudou a desenvolvê-la”, afirmou o “Sherlock Holmes” saudita ao descrever a prática como uma “paixão pelo meio ambiente e pela capacidade de memorizar todos os detalhes”.
Em muitas ocasiões, os rastreadores chegam a ser acusados de bruxaria ou de pacto com o diabo, uma questão que Yabar considera “cômica”, já que as pessoas já se acostumaram com seus anormais argumentos. “Se fosse coisa do diabo, rastrear as pegadas já teria sido proibido pelo islã”, justificou.
Segundo conta a lenda, os inimigos de Maomé utilizaram um famoso rastreador para seguir o exemplo do profeta durante sua fuga de Meca à Medina e chegaram a localizá-lo, mas não chegaram a lhe fazer mal “porque Deus o protegeu”.
Durante o rastreamento, prestando atenção em cada detalhe que poderia passar despercebido, Yabar é capaz de diferenciar entre a pegada de um homem e a de uma mulher. No caso das mulheres, este rastreador assegura que consegue diferenciar entre uma virgem e uma grávida.
“Tudo o que digo não é nenhum exagero, é uma verdade que está provada”, assegurou o rastreador, que, no caso dos camelos, diz conseguir entrar em mais detalhes, como a possível verificação de um ferimento. Isso tudo analisando apenas uma pegada.
Para determinar a criminalidade de uma pessoa, no entanto, Yabar se fixa em muitos outros fatores, como as sujeiras presas nos sapatos do suspeito, a areia em sua roupa ou a água que bebeu durante a fuga.
Neste aspecto, Yabar acredita que, apesar da tecnologia moderna, os rastreadores sempre serão uteis: “Muitas delegacias da Arábia Saudita ainda requerem os serviços destas pessoas, quase sempre confiantes de que estes os ajudarão a identificar a cena do crime”.
No último mês de abril, o ministro do Interior saudita, o príncipe Mohammed Bin Nayef, entregou uma recompensa de US$ 2,6 mil a um rastreador que tinha ajudado a resolver o mistério de um complexo crime depois de meses.
Al Mushabab, de 39 anos e companheiro de Yabar no Departamento de Polícia, explica que começou seu treino como rastreador distinguindo as pegadas dos entes de sua família e dos vizinhos, que passou a não errar mais.
Este saudita, que resolveu dezenas de roubos e assassinatos usando sua intuição e seus conhecimentos, admite que as ruas pavimentadas, as calçadas e as casas modernas tornam sua missão mais difícil.
“Pelo menos, a Arábia Saudita é um deserto, e os delinquentes sempre preferem fugir através dele”, declarou.
Segundo Al Mushabab, os sauditas também se dedicam a esta profissão, mas “as condições sociais lhes impedem de exercê-la, já que não querem manchar sua imagem”.
E conclui dizendo que, tanto para homens como para mulheres, “a arte da fisionomia é uma questão curiosa”. EFE
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