Schwartsman avalia que Governo eleito terá de fazer ajustes “dolorosos” em 2015
Gabinete presidencial no Palácio do Planalto
Gabinete presidencialEm entrevista ao Jornal da Manhã, o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, consultor e professor do Insper, avaliou a economia atual e previu as medidas que o Governo que vai ser eleito neste ano terá que tomar em 2015. “A gente acumulou tantos erros de política econômica, que vai ser difícil achar uma saída que não seja dolorosa para esse modelo econômico que foi implementado nos últimos quatro, cinco anos. Ou seja, vai ter que pagar um custo alto por conta dessa folia de quatro, cinco anos”, diz Shwartsman.
Confira abaixo a entrevista completa, conduzida pela comentarista econômica Jovem Pan Denise Campos de Toledo. Você também pode ouvi-la no áudio acima.
Denise Campos: Estamos vendo o mercado financeiro reagindo muito a pesquisas eleitorais, tentando ver numa possibilidade de mudança de governo mudanças maiores na gestão da economia. Agora, independentemente do que ocorrer nas eleições, o fato é que todo mundo trabalha com perspectivas de um 2015 muito difícil. Como você vê o encaminhamento dessas discussões no que se refere a ajuste fiscal, controle de inflação, a própria retomada de um crescimento mais vigoroso do País? Qual seria hoje o caminho para chegar a esses ajustes todos?
Alexandre Schwartsman: Está ficando cada vez mais claro que não é possível continuar empurrando os problemas que a gente vem empurrando com a barriga. A gente deve ter a inflação provavelmente acima do topo da meta este ano, um desempenho fiscal muito ruim. A ideia que se tem é que quem chegue lá (no Governo) vai ter que fazer alguma coisa para lidar com o problema. E a verdade é que não tem muita escapatória. A receita certa é de quem sentar lá em 2015, a primeira coisa é cortar os gastos no que der – não é muita coisa, mas é o que dá para fazer, vai ter que permitir que o Banco Central suba o juro e vai ter que tirar muito o pé do BNDES, banco público, etc. Então, se fizer as coisas certas, ano que vem vai ser um ano muito difícil, mas que prepara o terreno para o crescimento em 2016, 2017. Se resolver empurrar mais um ano com a barriga, a gente vai ter um problema sério, provavelmente, em 2016.
Denise Campos: A gente tem um problema social de insatisfação que, muitas vezes, parece nem ter uma explicação muito clara, mas que poderia se agravar com esses ajustes. Os ajustes podem implicar aumento de juros, corte de gastos, até de investimentos do Governo, enfim, um aperto geral na economia, que pode ter como consequência até uma piora no mercado de trabalho?
Alexandre Schwartsman: Eu acredito que sim. Deixaram acumular esse desequilíbrio. E vamos lembrar também que a gente tem uma série de preços para serem corrigidos.
Denise Campos: Exatamente. Entra nessa lista aí do que a população não gostaria, como tarifa de ônibus, aumento de energia, aumento de combustíveis…
Alexandre Schwartsman: É. Ninguém gosta disso. Eu não gosto disso. Eu pago energia, pago gasolina, não tenho o menor apreço por preços maiores. Agora, a verdade é o seguinte: se não reajustar, por exemplo, os preços de energia, as empresas distribuidoras de energia elétrica vão ter sérios problemas, a Petrobras tem sérios problemas. Controlar a inflação segurando o preço público, a gente sabe como começa e como termina: é uma alegria quando começa, porque não subiu o preço do ônibus, não subiu a energia, mas lá na frente vai ter que corrigir, vai ser pior. Aí vai compor com os demais problemas. Quer dizer, a gente acumulou tantos erros de política econômica, que vai ser difícil achar uma saída que não seja dolorosa para esse modelo econômico que foi implementado nos últimos quatro, cinco anos. Ou seja, vai ter que pagar um custo alto por conta dessa folia de quatro, cinco anos.
Denise Campos: Quanto ao espaço político e o questionamento social em relação a esses ajustes, o Governo teria fôlego para encarar tudo isso?
Alexandre Schwartsman: Acho que se há algum governo que pode fazer isso é um novo governo, mesmo que seja a reeleição do atual. Quer dizer, só um governo que está devidamente respaldado nas urnas é que tem o mandato para fazer esse tipo de coisas. Países que passaram por ajustes mais recentemente foram países que também passaram também por mudanças de Governo. Quer dizer, se olhar, por exemplo, o que aconteceu na Inglaterra, o que aconteceu na Espanha, foram governos que entraram e tomaram medidas muito duras, políticas muito restritivas, talvez algumas até exageradas, no contexto da época. Mas, de qualquer forma, os dividendos estão pagando agora. Mais na Inglaterra do que na Espanha, a Inglaterra com uma trajetória de crescimento melhor, uma vez que já fez o ajuste. No caso, quem entrar aí vai ter que fazer (o ajuste). A alternativa é: ‘então não faça em 2015’, aí em 2016 a situação está pior. Se eu vou fazer em 2016, eu vou ter mais dificuldade, vai ser mais custoso, segundo: eu vou demorar mais para me recuperar. O negócio é fazer tudo que é necessário no começo. Aguenta o tranco, não tem alternativa, depois vai ver o que acontece lá em 2016, 2017, 2018. Acredito que, se fizer as coisas direito, muito provavelmente vai estar semeando a recuperação lá na frente. Acho que é uma aposta que qualquer Governo vai ter que fazer: ‘faz o duro’ agora e espera lá na frente, pra 2018, já estar colhendo os frutos desse ajuste, estar com uma economia com inflação baixa, uma economia crescendo decentemente, o mercado de trabalho recupera, daí vai ser uma reeleição mais tranquila.
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