Se esperasse os bombeiros teria morrido todo mundo, diz morador de Mairiporã
O número de 16 mortes já confirmadas que a forte chuva na Grande São Paulo deixou na noite de quinta e madrugada desta sexta (11), apesar de assustar, poderia ter sido pior.
Ao menos quatro pessoas que já tiveram o óbito confirmado estavam nas três casas que desabaram à altura do número 68 da Rua Primavera em Mairiporã, cidade da região metropolitana. Entre as vítimas fatais estão duas crianças. Outras seis pessoas seguem desaparecidas e os bombeiros veem pouca chance de sobrevivência. Caíram sobre a cidade 149 mm apenas nesta noite, maior chuva para a região em 40 anos.
A terra continua encharcada apesar da abertura do sol na manhã. A chuva, porém, aparece em alguns momentos. Os bombeiros utilizam pedaços de troncos de árvores para escorar sobre a terra e tentar realizar o resgate. A atuação das equipes começou apenas depois das 10h, mais de 12 horas depois do deslizamento de terra, que ocorreu por volta das 22h da noite desta quinta. Técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) tiveram de se deslocar ao local para avaliar a situação do solo e garantir a segurança das equipes oficiais.
Eram três casas alugadas para pelo menos quatro famílias.
Ajuda comunitária
Durante a madrugada, entretanto, pelo menos cinco pessoas foram resgatadas pelos próprios moradores no momento do deslizamento. O ajudante Jessé Silva e o motorista Douglas Araújo, que ficaram acordados durante toda a madrugada, contam como funcionou o trabalho em equipe (veja no vídeo abaixo).
Da equipe improvisada de vizinhos, uma parte ficou na parte de cima do morro em que se encontravam as três moradias, e outra na parte de baixo. “Muitos não quiseram ajudar porque ficaram com medo, muita chuva na hora, descia uma enxurrada, parecia uma cachoeira mesmo”, relata Jessé.
“Se tivesse deixado por conta dos bombeiros tinha morrido todo mundo”, avalia. A dupla conta que conseguiu resgatar uma mulher pouco antes de a terra ruir e uma lage cair exatamente sobre onde ela estava. Outra criança foi tirada do meio dos escombros após ter seu “gemido” ouvido pelos vizinhos.
Trabalho delicado
O porta-voz do corpo de Bombeiros Marcos Palumbo explicou à Jovem Pan por que os bombeiros demoraram a entrar no local do desastre. Uma das vítimas soterradas é o sr. Severino, de aproximadamente 60 anos, que estava imerso em água e lama até o umbigo. Os moradores não conseguiram retirá-lo. Então, os bombeiros chegaram. “No momento de retirada dessa vítima, ocorreu um novo deslizamento”.
A equipe chegou rapidamente à Rua Primavera. O resgate das pessoas soterradas, porém, deve demorar ainda “dias” devido à delicada situação do local.
“A residência que ficava em cima desabou por completo pela força da encosta descendo pelo barranco, atingindo a casa, soterrando essas vítimas, acreditamos, num único ponto”, explica Palumbo. “Porém, o Corpo de Bombeiros agora não consegue acessar esse ponto pela instabilidade do terreno e porque pilares e vigas, elementos estruturais importantes, estão afetados. Então estamos fazendo um escoramento”.
Um bombeiro fica em posição estratégica e, a qualquer movimento de terra que indique possível novo deslizamento, apita para que todos deixem o local. “Senão a gente ficaria no local, sendo mais 50 vítimas”, precavê-se Palumbo.
Informações da repórter Carolina Ercolin
*Matéria expandida às 14h33
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