Sebastián Piñera: “Não está nos meus planos hoje voltar à presidência”

  • Por Agencia EFE
  • 01/03/2014 18h43
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Manuel Fuentes.

Santiago (Chile), 1 mar (EFE).- “Não está nos meus planos hoje voltar à presidência” do Chile, assegurou em entrevista à Agência Efe Sebastián Piñera, o primeiro líder de direita eleito no país em meio século, que em dez dias entregará o poder à socialista Michelle Bachelet.

“A centro-direita tem muitas lideranças. É bom que floresçam todas as flores. Quando chegar o momento de escolher nosso candidato, veremos quem é que está melhor posicionado, mas ainda falta muito”, refletiu Piñera.

“Tenho um milhão de planos. Há vida depois da presidência”, manifestou o líder chileno, que não pretende continuar vinculado à atividade partidária, mas sim “à política com maiúsculas”.

“Como ex-presidente, desejo fornecer minha experiência e meus pontos de vista a todos os governos que tenha meu país”, disse Piñera, que deseja “um bom governo” a Michelle Bachelet, e que se “mantenha o ritmo de crescimento” que fez com que o Chile em quatro anos passasse de US$ 15 mil a US$ 20 mil de renda per capita.

Após lembrar que governou em minoria parlamentar, o líder se queixou que “em algumas matérias a oposição foi muito obstrucionista”.

Para Piñera, opositor à ditadura, “a centro-direita chilena não pode ter seus olhos presos ao passado”, mas deve demonstrar “um compromisso inabalável e definitivo com a democracia, a liberdade e os direitos humanos”.

O regime de Augusto Pinochet “não respeitou as liberdades e cometeu muitos abusos contra os direitos humanos, sem prejuízo de reconhecer que, ao mesmo tempo, fez uma obra modernizadora que foi valiosa”, acrescentou.

“Alguns acham que os governos de direita se preocupam só do crescimento econômico, o funcionamento dos mercados e a ordem, e a segurança”, disse.

“Mas meu governo – enfatizou – se preocupou também com a igualdade de oportunidades, a luta contra a pobreza, a justiça social, a proteção do meio ambiente e os direitos das mulheres e as minorias.

E é especialmente a defesa dos direitos humanos, um tema que Piñera considera “essencial” e pelo qual rejeitou perdoar repressores, condenou o golpe militar e fechou prisões que concediam privilégios aos militares que participaram da ditadura.

Essa convicção, disse, o levou também a “levantar a voz quando, em outras partes do mundo, incluindo a América Latina, há países onde os direitos humanos não são devidamente respeitados”.

“A democracia, a liberdade e o respeito aos direitos humanos são valores que não conhecem fronteiras”, enfatizou.

Sobre a integração regional, Piñera disse que “há muitos organismos sem resultados férteis”, e ressaltou que “a experiência mais bem-sucedida é a Aliança do Pacífico”, o bloco integrado por Chile, Peru, México e Colômbia e para o qual espera um pleno apoio de Bachelet.

Porque não é só um bloco comercial “nem uma aliança ideológica contra ninguém”, mas um grupo de países que também compartilha princípios políticos, como a economia social de mercado, o valor da democracia e o Estado de direito, destacou.

Quanto à preponderância de governos de esquerda na região, o presidente do Chile afirmou que “os países da América Latina que estão avançando melhor são os que encontram na liberdade a iniciativa individual, a economia de mercado e o Estado de direito”.

“Isso demonstra que há caminhos que conduzem à melhor qualidade de vida e felicidade dos povos”, ao contrário dos que optaram pelo “populismo e a demagogia”, acrescentou.

Ao fazer um balanço de seu mandato, Piñera admitiu que “nunca se pode fazer tudo o que se quer”, mas assegurou que alcançou grande parte das metas que se propôs a cumprir.

Uma das tarefas que mais esforço requereu foi a reconstrução do país após o devastador terremoto de 27 de fevereiro de 2010.

“Além disso, conseguimos recuperar a liderança, a capacidade de crescer, criar postos de trabalho e reduzir a pobreza e as desigualdades”, algo que na sua opinião tinha se perdido durante o governo de Bachelet (2006-2010).

Além das grandes expectativas que sua vitória eleitoral gerou após 20 anos de governos de centro-esquerda, Piñera explicou que governar se tornou mais difícil porque os cidadãos chilenos se tornaram “mais exigentes e impacientes”. Parte dessas dificuldades foram os protestos estudantis que aumentaram a partir de março de 2011.

“No Chile há quatro milhões de estudantes. Os que se manifestavam eram 50 mil e pediam que toda a educação fosse pública. Eu não estou de acordo com isso. Isso é um monopólio, um atentado contra a liberdade”, disse.

Os protestos ambientais, que bloquearam megaprojectos energéticos, foram outra preocupação para Piñera, que reconheceu que, por este motivo, seu governo teve problemas com os juízes, aos quais em algumas ocasiões o presidente também criticou por “preocuparem-se mais com os direitos dos delinquentes do que com os das vítimas”. EFE

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