Secretário da Saúde diz que mortes por dengue são “constrangedoras” e quer antecipar teste de vacina
Relatório do Ministério da Saúde mostra que 169 pessoas morreram em decorrência da dengue apenas em São Paulo, em 2015. No Brasil, foram 229 óbitos e 745 mil casos apenas neste ano, o que caracteriza uma epidemia no País, de acordo com padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, o secretário estadual de Saúde de São Paulo, David Uip, atribuiu o grande número de mortes ao aumento de mosquitos no estado e à incidência na população mais idosa. Ele disse ainda que vacina preparada pelo instituto Butantã pode ter fase de teste antecipada, em que será aplicada em 17 mil pessoas, caso o ministério da Saúde aceite tal pedido. Para Uip, que também é médico infectologista, a tendência nas próximas semanas é que o número de casos diminua.
“É realmente um desafio, um grande aumento do número de casos e o número de mortos deve ser entendido”, disse Uip. “Desses mortos, que infelizmente são todos absolutamente constrangedores e a gente não gosta de estar falando de mortos, a grande maioria foi na população acima de 70 anos de idade e, uma boa parte, em grupo acima dos 80 anos”, afirmou, citando o falecimento de um morador de Campinas com 97 anos.
“Então, os pacientes com idades, os pacientes com doenças crônicas, cardiopatas ou pulmonares, quando têm uma infecção, seja ela por vírus ou bactérias, obviamente é mais grave. No caso da dengue, tem que ser entendido como uma infecção grave por um vírus que se acerta em cima de doentes crônicos”, explicou. “Todas as mortes são absolutamente indesejáveis, mas a redução de danos passa por esse nível e compreensão do atendimento”, completou.
“Previsto”
Para Uip, o aumento de casos “é totalmente previsto”, pois “nos últimos cinco anos o mosquito entrou no estado de São Paulo”, que “foi poupado pelo inseto durante a grande pandemia brasileira”. “O mosquito não obedece fronteiras, o mosquito chegou”, disse.
Ele citou ainda que 80% dos criadouros estão nos domicílios, relatando dificuldade de erradicar tais tipos de pontos de transmissão da doença.
Vacina
“O ministério da saúde está estudando antecipar a fase III (dos testes da vacina contra a dengue)”, disse Uip.
Embora a fase II de teste de vacina produzida pelo Instituto Butantã, em São Paulo, ainda não esteja concluída, o secretário entende que já é possível avançar um passo. A segunda fase visa a trazer a segurança da vacina, verificando possíveis efeitos adversos. “Somando os casos que foram testados no Brasil e no NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos), laboratório público dos EUA, apresentou-se segura, poucos efeitos adversos”.
Já a fase III “objetiva saber o quão importante é a vacina na produção de anticorpos”. Há uma proposta de pesquisa com 17 mil voluntários para todo o País. Um terço seria o grupo de controle placebo.
“Evidentemente, o estado de São Paulo não fará nada sem o consentimento da Anvisa, do ministério e dos órgãos de ética que acompanham essa pesquisa de campo”, completou.
Expectativas
Uip anunciou que divulgará dados na próxima sexta (08) que mostrará a redução no número de casos de dengue no estado de São Paulo. Ele afirma que, em municípios onde a epidemia é mais grave, como Catanduva e Sorocaba, “isso (redução) já vem ocorrendo”.
(Foto: Folhapress)
O secretário destaca, no entanto, que ainda “há problemas” na capital, São Paulo, na baixada santista, especialmente em Santos, e no vale do Ribeira, onde a incidência da doença vem aumentando.
Gripe
Por fim, David Uip ressalta a importância da vacinação contra a gripe, cuja campanha nacional começa nesta segunda. “Temos que desmistificar essa vacina”, disse. Uip destaca que a vacina contra as variações do vírus Influenza “evita as consequências da gripe, como pneumonia e sinosite, para as populações mais em risco”.
A campanha é anual e a vacina é disponibilizada gratuitamente em todo o Brasil.
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