Seita do atentado ao metrô de Tóquio segue na ativa 20 anos depois do ataque

  • Por Agencia EFE
  • 20/03/2015 06h30
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Andrés Sánchez Braun.

Tóquio, 20 mar (EFE).- Inúmeros enigmas continuam rodeando os ataques com gás sarin ao metrô de Tóquio cometidos em 20 de março de 1995 pelo grupo Verdade Suprema, seita que ainda sobrevive 20 anos depois captando novos adeptos, enquanto permanece sob a rígida vigilância das autoridades japonesas.

Durante o horário de pico no período da manhã daquele fatídico dia, cinco membros do Verdade Suprema (em japonês, “Aum Shinrikyo”), uma seita religiosa fundada em 1984, abriram de maneira coordenada vários pacotes de sarin nos vagões do metrô de Tóquio.

A inalação desse gás, criado na Alemanha e que em sua forma mais pura pode ser até 500 vezes mais letal do que o cianureto, fez com que 6.300 pessoas ficassem intoxicadas: 13 delas morreram, dezenas ficaram em estado quase vegetativo e a maioria até hoje carrega sequelas físicas, como perda de visão, cansaço crônico ou fortes dores de cabeça, além do estresse pós-traumático.

Para o jornalista e sociólogo Takeda Toru, este ataque teve um impacto maior na psique japonesa do que o da explosão da bolha financeira alguns anos antes, porque o ataque em Tóquio arruinou a sensação de segurança e confiança mútua arraigada até então no país.

“Nos demos conta, pela primeira vez, de que a pessoa sentada do nosso lado pode ser alguém completamente diferente de mim e é capaz de espalhar um gás venenoso”, explicou Toru à Agência Efe.

Em 1997, o Ministério da Justiça descartou proibir a existência da Verdade Suprema ao considerar que as prisões de seus líderes já não a transformava em uma ameaça para o Estado japonês. No entanto, em 1999 foi aprovada uma norma (conhecida como lei “anti-aum”), em virtude da qual o governo prorrogava por mais três anos o período de vigilância especial ao qual submete dois grupos – Aleph e Hikari no wa (Círculo da Luz), divisões da Verdade Suprema.

Embora os dois agrupamentos somem apenas 1.650 membros, ambos conseguiram captar cerca de 150 novos adeptos no Japão desde 2012. Como os integrantes entregam todo o seu patrimônio à organização ao entrar, as novas adesões aparentemente ajudaram a duplicar a renda para até 643.738.041 de ienes (R$ 17.548.011), nos três últimos anos.

O Serviço de Inteligência do Japão garante que os dois grupos continuam justificando os ataques de 1995 e juram lealdade ao guru e fundador da Verdade Suprema, Shoko Asahara.

Para muitos sobreviventes, familiares de vítimas e até mesmo para os moradores dos bairros onde a Verdade Suprema está instalada, é incompreensível que as autoridades ainda permitam a existência de abrigos e centros de oração do grupo.

Não ajuda, claro, que 20 anos de julgamentos não tenham esclarecido como e por que algo que começou como um simples seminário de ioga tenha se transformado em uma década em uma organização que sequestrava e assassinava opositores, fabricava armas químicas e possuía um helicóptero militar russo.

“Nos julgamentos, que foram realizados com júri popular, foram tratados os crimes em si, mas não se fala do contexto que permitiu a expansão da Verdade Suprema”, denunciava na semana passada em Tóquio, Shizue Takahashi, cujo marido, Kazumasa Takahashi, foi um dos funcionários da estação de Kasumigaseki que morreu ao retirar um pacote de sarin de dentro de um vagão.

A imprensa japonesa, por sua vez, se limita a perpetuar a ideia de que a Verdade Suprema e os atentados são simples produtos de um grupo de “maldosos e loucos”, em vez de tentar rastrear as aparentes frustrações que levaram vários membros da elite universitária japonesa a se juntar a esta seita.

Além da aparente motivação do ataque – uma manobra ordenada por Asahara para “proteger” a existência do grupo do assédio policial – também resta resolver diversas questões criminais em torno da seita.

Um exemplo é o esfaqueamento, cometido diante das câmaras de TV um mês depois do atentado, que causou a morte de Hideo Murai, o “ministro de ciência” da Verdade Suprema, realizado por um assassino profissional da “Yakusa”, a máfia japonesa, que se suicidou pouco depois na prisão.

Também não é claro por que, se a polícia vigiava de perto o Verdade Suprema, ninguém foi capaz de associar ao culto um atentado prévio com sarin que matou oito pessoas na província de Nagano, em 1994, ou o brutal assassinato, em 1989, de um advogado que tinha um processo milionário contra a seita.

Os 13 membros da Verdade Suprema, incluindo Asahara, que atualmente esperam no corredor da morte, certamente levarão para o túmulo as respostas dessas incógnitas, algo que poderia acontecer em breve, dado que a última sentença contra um dos coautores materiais do atentado será anunciada em abril. EFE

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