Sem mais negociações, zona do euro espera hora da verdade com referendo grego
Bruxelas, 27 jun (EFE).- Com as negociações esgotadas, a zona do euro aguarda a hora da verdade, na qual os gregos deverão decidir se o país aceitará as condições de sua salvação financeira ou abrirá as portas para a saída da zona euro.
A perspectiva de uma ruptura da união monetária europeia era algo que os membros da zona não cogitavam, uma possibilidade de imprevisíveis consequências tanto para o euro como para o projeto da integração europeia em geral.
Nas últimas semanas, os membros do euro agiram “na última hora” para conseguir um acordo com a Grécia e evitar uma catástrofe, pois pela primeira vez sentiram ruir o princípio da irreversibilidade do euro, no qual se baseia a confiança na jovem moeda única europeia, criada em 1999.
Em apenas dez dias foram convocadas cinco reuniões extraordinárias dos ministros de Economia e Finanças dos 19 países que compartilham o euro.
Nem a intervenção direta dos líderes da zona do euro conseguiu aproximar as posições de Atenas e do trio de instituições credoras (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que há meses se queixavam do estilo negociador do governo do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.
Os negociadores reclamam desde fevereiro – momento em que foi combinado ampliar o segundo plano de resgate da Grécia até o dia 30 de junho – da falta de preparação da delegação grega ao chegar às reuniões: constantemente com enviados sem mandato para tomar decisões, com atrasos sobre o horário, sem novas propostas e com as mesmas exigências e sem tradução.
Com a insistência do governo de Tsipras de não negociar com funcionários da antiga troika e de não convidar os “homens de preto” a entrarem novamente nos ministérios para coletar dados, os analistas tiveram que trabalhar de hotéis em Atenas, com enormes dificuldades.
O governo da Grécia reclamou que as instituições não levaram em consideração o voto grego, que optou por uma mudança para enterrar o memorando de entendimento e a troika.
Ao longo dos quatro meses de negociações houve declarações cruzadas e críticas de ambas partes, principalmente contra o Fundo Monetário Internacional (FMI), acusado recentemente por Atenas de ter “responsabilidade criminosa” na crise grega pela dura postura que mantém.
No entanto, além dos ataques verbais, está em jogo o futuro do euro, o grande projeto político da zona.
“A UE nunca esteve tão perto de uma saída da Grécia do euro, nem sequer em 2012, quando foi firmado o segundo resgate”, disse à Agência Efe o analista político do centro de estudos Open Europe, Vincenzo Scarpetta.
O analista não se lembra de ter escutado antes a tantos ministros de Economia e Finanças da zona do euro e líderes de instituições comunitárias e econômicas internacionais falarem de planos de contingência e de “planos B”.
Teme-se que a saída da Grécia do euro tenha um efeito de contágio em outros países com dívida pública elevada e com partidos eurocéticos em alta.
Os líderes do euro, com posições mais ou menos intransigentes em relação a Atenas, como ocorre com Alemanha, Áustria, Finlândia e Holanda, mais ortodoxos, ou os mais receptivos França e Itália, tentam evitar a ruptura.
Por isso, apoiam a última proposta das instituições à Grécia, que inclui uma prorrogação de cinco meses e financiamento suficiente para evitar a quebra do país, mas que já foi rejeitada por Atenas.
Para a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, essa oferta é “extremamente generosa”, já Tsipras a interpretou como “chantagem e ultimato” europeu.
Para as autoridades gregas, essa proposta, que inclui injetar liquidez até outubro por 15,5 bilhões de euros e evitar o absoluto vazio dos cofres, é contestável porque exigiria adotar “novas medidas que provocariam uma forte recessão” como condição para conseguir um financiamento “completamente insuficiente”, segundo fontes do governo grego. EFE
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