Setores radicais do Irã promovem segregação de mulheres
Ana Cárdenes.
Teerã, 14 ago (EFE).- Têm feito cada vez mais barulho as vozes que exigem a segregação por gênero na vida pública, bandeira liderada pela prefeitura de Teerã, que tomou a radical decisão de separar funcionários homens e mulheres.
O prefeito, Mohamad Ghalibaf, anunciou no final de julho que dividirá funcionários de acordo com o sexo nas dependências municipais e substituirá as funcionárias de postos em que é preciso trabalhar por longas horas, alegando que isso “prejudica a vida familiar”.
A prefeitura também proibiu que mulheres sejam contratadas como secretárias, gerentes de escritório e datilógrafas.
Estes passos se unem a medidas semelhantes, como a decisão policial de separar homens e mulheres em shows (o que provocou o cancelamento da apresentação do cantor pop Mohsen Yegane, segundo o jornal “Etemad”) e a de estabelecer bancos diferentes nos parques para homens e mulheres na tentativa de evitar que os jovens se sentem perto uns dos outros.
Essas políticas fazem parte da queda de braço entre os setores mais radicais no poder com o governo mais moderado de Hassan Rohani, que prometeu promover mais liberdade social.
“Vivemos em um sistema islâmico e temos dignidade religiosa”, disse Ghalibaf em um recente sermão do meio-dia da sexta-feira.
“Se em um cômodo trabalha um grupo em um orçamento, e três ou quatro são homens e outras são mulheres, podemos fazer algo para que elas trabalhem em um escritório e eles em outro”, argumentou.
Dias antes, uma porta-voz municipal confirmou a demissão, “pelo próprio bem-estar” de várias funcionárias em postos de gestão que exigiam longas jornadas, o que, segundo o prefeito, “com o tempo têm um efeito negativo na vida familiar”.
Essas iniciativas não deixaram ninguém indiferente. Receberam tanto aplausos como críticas cautelosas.
Cerca de 180 deputados (dos 290) apoiaram Ghalibaf, entre eles Ali Mohtahari, que afirmou que “esse passo deveria ter sido dado há anos”, e Margham Sadeqi, para quem a decisão representa “um respeito à mulher trabalhadora”.
O poderoso comandante chefe dos Guardiães da Revolução, o general Mohsen Kazemeyni, também elogiou a medida e afirmou à agência “Isna” que “se os assuntos relacionados à lei religiosa e as crenças sobre o papel da mulher não forem levados em consideração, a influência das mulheres pode se transformar em múltiplas ameaças para a sociedade”.
“Não faz sentido que mulheres e homens se sentem um ao lado do outro no trabalho” disse, e advertiu que a porcentagem de divórcios entre mulheres trabalhadoras é “alta e preocupante”.
O chefe do Poder Judiciário, o aiatolá Sadeq Amoli Lariyani, também apoiou Ghalibaf e disse que, embora “ninguém queira acusar homens e mulheres que trabalham em ambientes mistos de nada, porque felizmente mostram contenção, não se pode negar que esse clima não é o ideal”.
O governo de Rohani não gostou, mas optou por evitar o confronto. O ministro do Trabalho, Mohamad Taghi Hosseini, lembrou em carta a Ghalibaf que o Irã é membro da Organização Internacional do Trabalho, o que o obriga a cumprir as leis trabalhistas internacionais, incluindo as de não discriminação, e pediu para que a imagem internacional do país “não seja manchada”.
Depois voltou um pouco atrás e disse que não se referiu à segregação, mas à proibição de que as mulheres ocupem determinados postos.
O ministro de Bem-estar Social, Ali Rabi, também declarou que o Irã deve observar “as convenções internacionais desde que não contradigam os valores culturais islâmicos para combater a iranofobia”.
A voz mais crítica foi a do vice-presidente do governo para Assuntos da Mulher e da Família, Shahindojt Mowlaverdi, que apontou claramente que sua pasta “não aprova a segregação por gênero” e denunciou que “quem a aplica o faz sem autorização” do governo.
Já Ghalibaf argumentou que a criação em Teerã de cinco parques só para mulheres, criticada em um primeiro momento pela imprensa reformista, foi um sucesso. EFE
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