Shin Dong-Hyuk, nascido no pesadelo do gulag norte-coreano

  • Por Agencia EFE
  • 29/01/2014 06h17
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Andrés Sánchez Braun.

Tóquio, 29 jan (EFE).- Nascer em um “campo da morte” da Coreia do Norte, escapar e narrar o horror que vivido ali é algo que só pode fazer Shin Dong-Hyuk, que compartilhou em Tóquio algumas de seus terríveis experiências.

Este norte-coreano de 30 anos contou ter nascido em 1983 na colônia penal de trabalho forçoso número 14, no condado de Kaechon, um lugar de pesadelo onde estavam presos seus pais junto de outros 15 mil detentos e que foi seu lar até 2005.

“Antes de sair pensava que essa era uma vida normal. Não conhecia outra coisa”, explicou Shin com voz trêmula no Clube de Correspondentes Estrangeiros da capital japonesa, que visitou esta semana para promover a estreia de um documentário sobre o campo 14.

Ao contrário de outros norte-coreanos que sobreviveram ao internamento em outras colônias penais e conseguiram viver para contar, como é o caso do hoje jornalista Kang Chol-hwan, Shin é o primeiro que fugiu de um como Kaechon, destinado a prisioneiros políticos que o regime considera “sem possibilidade de redenção”.

Quem entra em um destes campos, conhecidos como “zonas de controle total” ou “campos da morte”, não saem (o próprio Shin disse não ter testemunhado nenhuma libertação nos 22 anos que passou lá) e devem trabalhar em condições desumanas até a morte.

O jovem norte-coreano disse ter visto muitos prisioneiros morrerem de fome, ou porque foram vítimas de acidentes nas minas ou não suportaram as surras, torturas e violações dos guardas ou porque foram executados a sangue frio após cometer alguma “afronta”.

“No campo não havia fotos do líder nem nos doutrinavam como no resto do país porque éramos considerados abaixo de um ser humano”, lembrou com um olhar que parece estar sempre em algum lugar muito distante.

Shin narrou no relato autobiográfico “Escape from Camp 14”, escrito pelo jornalista americano Blaine Harden, como os prisioneiros deviam inclusive pedir permissão aos guardas para comer os ratos ou rãs que apanhavam. Seu corpo miúdo é mostruário das torturas padecidas.

Em “Camp 14- Total Control Zone”, documentário do alemão Marc Wiese que estreará no Japão em março, Shin mostra para a câmera como seus braços, esticados, se dobram em um ângulo impossível.

O martírio ao qual foi submetido quando tinha 13 anos destruiu suas articulações dos cotovelos; ele foi pendurado pelas extremidades superiores e acenderam uma fogueira em suas costas, onde tinham inserido um gancho sob a pele para que não pudesse fugir das chamas.

Quando Shin, que nasceu e cresceu completamente à mercê da autoridade do campo, descobriu que sua mãe e seu irmão planejavam fugir, pareceu natural delatá-los.

Como recompensa os guardas o submeteram a essa tortura e depois o fizeram presenciar as execuções dos dois membros de sua família, como explicou a um comitê que investiga a violação de direitos humanos na Coreia do Norte e que publicará seu relatório em março.

Dez anos depois daquilo, Shin conheceu um preso recém-detido que contou do mundo “exterior”, e com ele decidiu planejar sua fuga, embora a liberdade, uma sensação que nunca tinha conhecido, não foi o que o motivou a escapar.

“Pensei: para poder comer uma vez até deixar de ter fome vale a pena que me matem”, lembrou.

Seu companheiro de fuga morreu na cerca eletrificada em que esbarrou antes de chegar à China, onde um ano depois, em 2006, conseguiu entrar no consulado sul-coreano de Xangai para pedir asilo.

“Sou consciente que minha história pode ser difícil de acreditar porque sou o único que a viveu e pôde contá-la. Por isso preciso de ajuda”, explicou ao grupo de jornalistas reunidos, antes de desabafar sobre como é difícil viver fora do campo.

“Passaram só oito anos desde que escapei e está sendo muito difícil apagar a mentalidade que inseriram em mim ali. Poderia me comparar perfeitamente a uma criança de oito anos”, concluiu. EFE

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