Silêncio e opressão marcam 25° aniversário da morte de ex-líder chinês

  • Por Agencia EFE
  • 15/04/2014 16h24

Tamara Gil

Pequim, 15 abr (EFE).- As redes sociais foram nesta terça-feira a única referência pública ao 25° aniversário da morte do ex-secretário-geral do Partido Comunista (PCCh) Hu Yaobang, cujo falecimento em 15 de abril de 1989 propiciou os históricos protestos da Praça da Paz Celestial que pediam democracia e acabaram em massacre.

Os censores chineses surpreenderam hoje com um gesto incomum e mais tolerante, ao autorizar comentários em comemoração ao falecido ex-líder, um político reformista que se atreveu a levantar tabus no regime ao propor a reabilitação dos perseguidos na Revolução Cultural, e que foi expulso da formação por sua postura diante das manifestações estudantis realizadas em 1986.

A popularidade de Hu levou às ruas milhares de pessoas por conta de sua morte para pedir em protestos, que ocorreram em 1989 e que a princípio foram permitidos pelo regime, que sua sua verdadeira imagem e índole fossem reveladas. Porém, essas manifestações se tornaram maciças e colocaram em perigo a estabilidade do PCCh: gente de toda índole e procedência pediam democracia.

Os tanques foram a resposta do então governo de Deng Xiaoping. O Exército chinês acabou com as reivindicações do povo a tiros, o que levou à morte de entre 400 a até três mil pessoas, um número que ainda hoje é desconhecido, na noite de 3 para 4 de junho de 1989.

“Hu era um líder com ideias muito democráticos, muito humano. Fez tudo o que pôde pelo povo”, lembrava hoje Zhang Xianling, uma integrante das “Mães da Praça da Paz Celestial”, o agrupamento de familiares de vítimas do massacre.

Zhang, cujo filho de 19 anos foi assassinado pela Armada chinesa há quase 25 anos, falou por telefone com a Agência Efe sem poder sair de sua casa, onde vive sob um estrito controle policial, sobretudo em dias como o de hoje e a poucos meses de completar o aniversário do massacre de Praça da Paz Celestial.

E, apesar das autoridades terem levantado seu ferrenho controle na internet – embora não completamente, alguns comentários foram apagados hoje-, a opressão e o silêncio oficial voltaram a marcar este aniversário.

“Só posso comemorar com o coração, nosso coletivo está muito vigiado”, se lamentou Zhang.

Seu caso não é isolado. A estrita vigilância do regime obrigou hoje à clandestinidade.

“Muitas pessoas sentem um profundo respeito a Hu. Mas ultimamente há muita repressão sobre qualquer atividade relacionada com os direitos humanos, por isso que honrar a Hu é muito difícil”, explicou à Agência Efe o advogado Teng Biao, próximo às “Mães da Praça da Paz Celestial”.

Com ele concorda Hu Jia, reconhecido ativista de direitos humanos. “Fiquei 51 dias em prisão domiciliar, não posso ir para nenhum lado. A única que consegui fazer é dar a um amigo uma oferenda para que leve a seu túmulo, com cuidado”, indicou Hu, que descreveu o morto líder como o único que “iniciou as reformas” no país.

“Só consegui comemorar eu mesmo em 2004, quando me aproximei do monumento dos heróis do povo (na praça de Praça da Paz Celestial) e deixei flores em sua homenagem”, ressalta o ativista.

Inclusive, de certo modo, os líderes também têm que se esconder para prestar homenagem a Hu Yaobang. É o caso do ex-presidente Hu Jintao, antecessor de Xi Jinping, que foi na sexta-feira passada à antiga casa do líder, segundo revelou uma foto que circulou neste fim de semana na internet e que foi rapidamente censurada pelo governo.

Apesar de ter sido levantado o tabu oficial há alguns anos sobre o nome de Hu Yaobang, nenhum dos principais meios de comunicação oficiais publicou a visita do ex-presidente e também não se atreveu hoje a divulgar textos que lembrem a figura do morto ex-secretário-geral.

“O governo força o povo a esquecer. Não querem que o povo conheça o massacre de Praça da Paz Celestial”, assegurou o advogado Teng. Para ele, como para outros ativistas e defensores dos direitos humanos, o medo do governo pela lembrança está claro: não querem que o povo volte a pedir democracia. EFE

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