Simferopol: uma cidade entrincheirada à espera da ajuda de Putin

  • Por Agencia EFE
  • 02/03/2014 15h03
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Ignacio Ortega.

Simferopol (Ucrânia), 2 mar (EFE).- A capital da Crimeia, Simferopol, é uma cidade entrincheirada que espera impaciente a solução ao dilema de se a Rússia enviará ou não tropas em ajuda para essa república autônoma ucraniana.

“A América é a culpada de tudo. Para que organizar outra revolução em Kiev? Nós não queremos uma guerra”, defende à Agência Efe Galina, representante da comunidade russa que é maioria na península da Crimeia desde o século XIX.

Nem pânico pela possível explosão de um conflito com as novas autoridades de Kiev, nem alegria pela possível intervenção russa. O ânimo entre os moradores de Simferopol é de expectativa em um cinza dia de domingo.

“Ninguém fala de outra coisa. Se a Frota russa do Mar Negro está tomando posições; se Kiev vai punir os rebeldes”, acrescenta Galina, que trabalha em um ponto câmbio de moeda.

Hoje, Simferopol está em estado de alerta diante da possível repetição das manifestações protagonizadas há dias pela minoria tártara, que defende a integridade territorial da Ucrânia e mantém a lealdade a Kiev.

“As autoridades se assustaram. O outro dia, perto do Parlamento, havia milhares de tártaros”, afirma Alexei, que é taxista.

Um cordão policial impede o acesso de carros ao bairro governamental, cujos edifícios principais, a Rada Suprema (Legislativo) e o Governo, estão controlados por homens armados que cumprem ordens, mas ninguém sabe de quem.

“São forças especiais russas. Não há dúvida. Por isso, não usam distintivo. Não querem ser reconhecidos”, afirma convencido Alexei.

O motorista se refere a dezenas de homens armados, com capacetes e vestidos de preto nas imediações de lugares estratégicos, como o aeroporto.

A cerca de 50 metros do aeroporto de Simferopol 20 soldados desse misterioso destacamento controlam, sem aparente, interesse tudo o que acontece nas imediações. Os visitantes torcem o nariz quando avistam esse destacamento, que não faz questão para passar despercebido.

Eles têm a ajuda das patrulhas ou milícias populares formadas pelas organizações locais pró-Rússia, cujos membros usam um bracelete vermelho e estão à paisana.

Sua missão é impedir a chegada de unidades militares leais a Kiev e de grupos de radicais de Kiev, aos que chamam desdenhando de “banderovtsi”, ou seja, seguidores do ideólogo do nacionalismo ucraniano, Stepan Bandera.

Bandera é uma figura muito controversa, já que supostamente colaborou com os nazistas contra o Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, o que lhe transformou em um herói para os ucranianos ocidentais e em um traidor para os orientais.

O único distintivo propriamente ucraniano é o usado pelos funcionários de alfândegas, que perguntam inquisitivamente ao recém-chegado sobre o objetivo da visita, quanto tempo ficará e se já tem passagem de volta.

“Os jornalistas são mensageiros das desgraças”, afirma ironicamente um turista que chegou a Simferopol para visitar um parente.

Os tambores da guerra ainda estão distantes e ninguém parece desejar um sangrento conflito, como os que explodiram em várias repúblicas após a queda da União Soviética, mas os crimeanos também não estão dispostos a vacilar.

Nestes dias, Simferopol pouco lembra à capital do balneário mais popular da época soviética e, de fato, muitos turistas cancelaram nos últimos dias seus planos de visitar a península e o Mar Negro.

A Crimeia recebe anualmente mais de 5 milhões de turistas, a maioria da Ucrânia, mas também muitos russos, que se sentem à vontade entre iguais, já que na Crimeia praticamente toda a população fala russo.

Simferopol, cidade muito distante do litoral, para a qual as pessoa precisam se deslocar de trem ou ônibus, tem todo o aspecto de uma cidade que ficou ancorada na nostalgia de seu brilhante passado soviético. EFE

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