Sindicatos turcos anunciam greve geral em protesto por acidente em mina
Ancara, 14 mai (EFE).- Vários sindicatos turcos convocaram uma greve geral para amanhã em protesto pelo acidente em uma mina do oeste da Turquia, onde morreram pelo menos 232 pessoas, e que foi causado, segundo denunciaram nesta quarta-feira, pela falta de medidas de segurança e pela exploração laboral.
“Os sindicatos DISK e KESK, a União Turca de Médicos (TTB) e a União de Colégios de Arquitetos e Engenheiros (TMMOB) decidimos ir à greve, mas achamos que outros sindicatos se unirão e haverá protestos em quase todas as cidades do país”, declarou o secretário-geral do KESK, Ismail Tombul, à Agência Efe por telefone.
O sindicato de funcionários KESK e a Confederação de Sindicatos Operários Revolucionários (DISK), ambos vinculados à oposição, são duas das cinco maiores centrais do país, mas as principais organizações operárias simpatizam com o governo islamita.
Cemalettin Sagtekin, membro do TMMOB, denunciou na emissora “CNNTürk” as condições trabalhistas dos mineradores, que recebem salários de apenas 1.200 a 1.500 liras turcas mensais, equivalentes a 400-500 euros.
“A causa das mortes é a ambição descontrolada dos patrões. Os engenheiros que devem fazer os controles regulares recebem seu salário da mesma empresa”, acusou Sagtekin.
“Isso não é um acidente, é um crime”, disse à imprensa Tayfun Görgün, presidente do sindicato dos mineradores Dev-Maden Sen.
“Não havia mortos quando as minas pertenciam à TKI, a empresa estatal do carvão; as mortes começaram com a privatização. Não são acidentes, são assassinatos”, reforçou.
De fato, Alp Gürkan, dono da empresa de mineração Soma Holding, diretor do poço no qual aconteceu ontem o acidente, havia declarado há dois anos ao jornal “Hürriyet” que conseguiu baixar intensamente os custos da exploração, uma vez que se decidiu privatizar a mina em 2005.
“Antes, tirar uma tonelada de carvão tinha um custo de US$ 130-140 e, agora, nos comprometemos a fazer isso por US$ 23,80, já incluindo os 15% de licença que se pagamento ao TKI”, expôs Gürkan.
O promotor-chefe da província de Manisa, Durdu Kavak, disse ao mesmo jornal que seu escritório iniciou uma investigação sobre o acidente de ontem.
Mas “os chefes responsáveis, os que deveríamos deter em primeiro lugar, morreram junto com os operários”, ressaltou.
Um ex-presidente do Colégio de Engenheiros de Minas, Mehmet Torun, se mostrou em dúvida se a causa da catástrofe pudesse ter sido a explosão de um transformador elétrico, como avançaram as autoridades.
“Achamos que a causa foi um incêndio em resíduos antigos da extração de carvão; podem se incendiar se não forem tomadas medidas de precaução e isso produz o mortal monóxido de carbono”, detalhou Torun.
A Turquia tem a pior taxa de segurança laboral da Europa, com uma média de três operários mortos por dia, e os acidentes mineradores são um problema crônico.
Um estudo da Universidade de Kirikkale mostra que o setor minerador é o mais perigoso do país, acima do metalúrgico e do da construção.
O número de acidentes aumentou entre 2004 e 2010 até constituir esse ano 14% de todos os acidentes industriais, enquanto os mineradores só constituem 1,3% da mão-de-obra do país.
Em média, ao ano morrem 80 operários em acidentes de mineração na Turquia, segundo esse estudo, o que equivale a um de cada mil empregados. EFE
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